Os problemas e as recompensas da docência
Fatita Menezes e Gonçalo Gouveia, uma ex-docente e um ainda a dar aulas, ambos abordaram os problemas da docência, mas também as virtudes
A ex-professora, que se sente perfeitamente realizada, que deixou de ensinar porque quis, que gosta de estar em contacto com os alunos, sem medo, mas lembra que além de ter de ensinar, os docentes hoje têm de fazer muitas coisas. Precisamente por isso é que deixou de leccionar.
Houve uma certa altura em que a parte lúdica era importante e eles achavam que era brincadeira, frisou. Licenciada em Germânicas e professora de português e francês, lembrou a filha que era aluna de 20 mas a geometria descritiva nunca tirava mais de 18 com um determinado professor, até que chegou uma altura em que esta desabafou que era mais fácil ser mau aluno que bom aluno, pois os maus alunos todos se preocupam com eles, os bons ninguém os acarinha".
Já o ainda docente há 31 anos, lembrando que estamos com 12 anos de educação obrigatória, mas não são anos suficientes para deixar os alunos com mente aberta para aprender e com a atitude pouco rica que se apresentam na sala de aulas. "As pessoas estão habituadas a estarem sós, numa vida totalmente mediática, que não educou os jovens a passar os alunos pelo mérito, mas de forma económica, pois se fossem retidos seria um problema gigantesco do ponto de vista financeiro", criticou.
É "uma vitória todos os dias os professores levantarem-se da cama e irem para as aulas, quando o seu papel foi completamente minimizado", atira ainda. Ao fim de mais de 30 anos, nem sempre dando aulas boas, "às vezes dou péssimas aulas, podia pensar que não são os alunos que devia ter ou merecia ter, mas estes são os alunos que tenho e tenho esse papel de os ensinar".
Docente de geometria descritiva, lembra alunos que ainda hoje, mais de 30 anos depois, encontra na rua e este lembra-se das situações específicas que aconteciam nas salas de aulas. A memória dos docentes é, de facto, a sua maior arma.