O Pão-por-Deus dos sentimentos…

Era véspera de Pão-por-Deus… estávamos em Novembro.

Numa tarde morna mas ainda não fria de Outono, o Manuel, um petiz de oito anos, caminhava sem pressa, a caminho da escola que não ficava muito longe da sua humilde casinha, onde vivia com a Mãe. O pai tinha imigrado e nunca mais dera notícias.

Em sentido contrário, caminhava também um velhinho, carregando às costas um saco de serapilheira que já não estava cheio mas ainda pesava pelo modo de andar do senhor. Manuel nunca o tinha visto e, pensava lá com os seus botões, quem seria? Tinha um rosto feliz. Já próximos, sentou-se na berma da estrada.

Para onde vais, meu menino e o que levas nesse saquinho? – perguntou. Lembrando-se de que a mãe sempre lhe recomendara para não falar com estranhos, ainda hesitou. Mas, perante um ar tão bondoso, não quis ser indelicado e respondeu que era o Manuel e que ia para a escola. Neste saquinho levo nozes, castanhas e duas maçãs, porque vamos fazer o Pão-por-Deus, repartindo entre todos o que levamos. Como o senhor nada dizia, Manuel também quis saber quem ele era e o que levava no saco.

Com um sorriso de ternura, o bom velhinho, olhando para o menino, respondeu:

- Sou o Pão-por-Deus dos bons sentimentos e carrego-os neste saco para os dar a quem encontrar pelo caminho.

Pão-por-Deus dos sentimentos? - não sabia que existia, respondeu o menino muito admirado. Mas, de que sentimentos falas?

O bom velhinho, abriu o saco e mandou - o tirar um.

Manuel meteu a mãozinha no saco e tirou um papelinho que dizia: AMIZADE. Só tens este? - perguntou . É claro que não. Tenho outros, como: LUZ, PAZ, BONDADE, AMOR, GRATIDÃO, CARINHO, AJUDA, PARTILHA, RESPEITO, PERDÃO e muitos outros que irás aprender. Guarda-os sempre no teu coração, vive-os, reparte-os e serás muito Feliz.

Depois, abraçando o menino, seguiu o seu caminho. Manuel nunca mais esqueceria este encontro. Seria impossível, não concordam?

Bom Pão–por-Deus!

Graziela Camacho