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Crónicas

Marco Paulo, o novo Variações?

Partiu esta semana aos 79 anos, vítima de doença prolongada um dos cantores portugueses mais icónicos do século XX. Marco Paulo, deixa assim para trás, um legado de que poucos músicos se poderão orgulhar. Milhões de discos vendidos e uma popularidade sem paralelo e a quem ninguém ficava indiferente. Muito ligado ao que vulgarmente chamamos de música “Pimba”, catalogado por ser o ídolo das donas de casa e empregadas de limpeza que o ouviam incessantemente durante as lides domésticas acabaria por ficar eternizado pela célebre personagem do comediante português Herman José, de nome “Serafim Saudade” que ao lhe imitar o cabelo, o estilo e a postura lhe entregaram praticamente o epíteto de estrela sem paralelo no nosso país.

E não deixa de ser incrível, quando nos pomos a escutar uma e outra faixa do seu repertório, a quantidade delas que estão completamente presentes na nossa mente, ao ponto de as conseguirmos cantar quase na perfeição. Do “Eu tenho dois amores” a “Anita”, do “Joana ( pensar que estivemos tão perto), ao “Maravilhoso, coração maravilhoso”, passando por “Ninguém, ninguém”, “Taras e Manias” ou “Nossa Senhora”, são muitas as letras que sabemos quase de cor. Não deixa de ser engraçado que aquele que para muitos era visto como um cantor foleiro e popularucho tenha marcado de forma tão presente diversas gerações mesmo que muitos o tentassem desvalorizar. Nós temos aliás esse hábito de ir esquecendo e esnobando o que vai ficando para trás com este imputo moderno e supostamente erudito a que muitas vezes nos aprisionamos.

A verdade é que foi preciso o aproximar do seu desaparecimento para que as suas músicas voltassem a ecoar nas rádios portuguesas e ganhassem uma nova vida. Muito à custa do magnifico espetáculo criado por um dos mais talentosos músicos portugueses de nome Tiago Pais Dias, na voz de Jessica Cipriano e de Andrea Verdugo e com o madeirense Ricardo Vasconcelos nas teclas, que com o seu “Para sempre Marco” conseguiram emprestar uma nova roupagem a diversos temas do cantor e aproximando-o às novas gerações de tal modo que mesmo antes da sua morte não se falava já de outra coisa. Nas rádios e ate discotecas temos ouvido nas últimas semanas o renascer desses temas um pouco ao jeito do que aconteceu com António Variações, que ganhou verdadeiro significado na música portuguesa muitos anos depois do seu falecimento, tornando-se inclusivamente um dos nomes mais importantes do nosso país.

Sem ter muito jeito para fazer futurologia, antevejo que o mesmo possa vir a suceder com Marco Paulo. Este novo trabalho desta nova geração de artísticas mostra-nos um caminho nunca antes conhecido de melodias ricas e letras cheias de força e significado. Não será por isso de estranhar que nos próximos tempos, vários outros projectos surjam em homenagem ao cantor e que façam as suas músicas perdurar no tempo através de novos arranjos e formatos. O reconhecimento esse é mais do que merecido, para um cantor que marca de forma indelével a música popular portuguesa e que com toda a certeza se manterá bem vivo entre nós, goste-se mais ou menos. Cumpre-se assim o ultimo desejo do cantor que ainda há pouco tempo dizia “quanto mais vocês cantarem mais eu vos oiço lá em cima”. Obrigado Marco Paulo e até sempre!