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Análise

Factos indesmentíveis

1. Os jovens madeirenses estão com uma enorme dificuldade em se emanciparem, constituir família e se autonomizarem dos pais; o mercado imobiliário, que regista uma grande procura, sobretudo por parte dos estrangeiros, é inacessível ao madeirense que aufira uma remuneração média; consequência das grandes dificuldades sentidas regista-se uma procura crescente pelo crédito pessoal. São muitos os que não conseguem pagar a renda da casa com o ordenado mensal. A DECO já alertou para os efeitos deste perigoso indicador, enquanto assistimos a uma subida generalizada dos preços, tornando o nível de vida mais caro. Todos sentem essa fatalidade. E o que muitos conseguiam fazer há uns anos, fazem-no, agora, muito menos vezes, como a simples ida a um restaurante. Há quem assegure que existem estabelecimentos com preços diferentes para residentes e turistas, porque os primeiros não conseguem acompanhar a carteira dos segundos. Como não conseguem acompanhar, também, a compra de uma habitação por muitos milhares de euros acima da realidade vivida há apenas 6/7 anos, num panorama altamente inflacionado.

O turista nunca será um inimigo para um arquipélago que o acolhe bem há séculos. Continua a dar um valioso e decisivo contributo para a economia madeirense, mas a percepção popular é que o aumento exponencial de turistas nas ruas está a desequilibrar o mercado. Dispensa-se intervenções directas do governo, à moda comunista, mas é preciso debater, sem preconceitos nem demagogias e encontrar soluções clarificadoras que vão de encontro às reais necessidades dos residentes, a par da tão necessária actividade turística. O que não pode acontecer é deixar-se agudizar a percepção de que a pressão turística está a gerar problemas graves para os habitantes locais, afectando o necessário equilíbrio social. Num ano de recordes turísticos, mas também da receita fiscal cobrada na Madeira exige-se mais das autoridades públicas, para o bem-estar dos que vivem e trabalham na Região.

2. O ruído em torno do Orçamento do Estado é cansativo, repetitivo e serve apenas para os partidos marcarem terreno na desabrida captura do voto. No meio de tanta poluição sonora ficamos, eleitores madeirenses, a saber pela boca do presidente do Governo que estão a decorrer “reuniões on-line” com os ministérios que contam para a contabilidade insular. Em causa, as justas reivindicações no campo da mobilidade, pagamento da dívida dos subsistemas de saúde, prorrogação do regime do Centro Internacional de Negócios e o princípio de capitação do IVA.

Uma observação: mas agora as negociações Funchal-Lisboa fazem-se por meio digital, com recurso a zoom e através de mail? Com assessores dos ministros, directores-gerais ou chefes de divisão? É a este nível que se encontra o relacionamento entre governos que são por acaso do mesmo partido?

3. Do Chega é de esperar tudo e o seu contrário. O que é irrevogável torna-se revogável num ápice. O partido que manipula estatísticas, sondagens e perverte a realidade social quis recordar ao PSD e a Miguel Albuquerque que o crédito dado ao Governo Regional, possibilitando a viabilização do Orçamento da Região, está “a esgotar-se”. O aviso foi dado de forma solene e em plena Assembleia Legislativa pelo líder regional do partido. Será previsível que esteja a preparar terreno para apresentar uma moção de censura por ocasião do levantamento da imunidade parlamentar aos três secretários regionais notificados no processo ‘Ab Initio’? O futuro deste governo é cada vez mais periclitante.