Os problemas do futebol moderno
O desporto rei já é tão rei, que já nem liga ao povo.
Quando somos crianças o futebol é quase tudo. As idas ao estádio, os relatos radiofónicos dramáticos, as cadernetas, o “Domingo Desportivo”, os jogadores que idolatrávamos, as derrotas que pareciam o fim do mundo…
Mas com a idade e maturidade apercebemo-nos que há coisas muito mais importantes na vida. A habitação, a educação, a saúde, a economia, a justiça, até a arte.
É claro que o futebol é um reflexo deste mundo selvático em que vivemos.
O futebol mudou e como tudo, houve aspectos positivos e negativos.
Depois do Euro 1992, implementou-se a lei de proibir o atraso ao guarda-redes com o pé de modo a evitar perdas de tempo. Foi uma excelente medida contra o anti-jogo.
Aumento de substituições, aumento das compensações, mais protecção dos jogadores contra lesões graves, etc… Foram outras medidas benéficas.
Mas cada vez há menos vontade para este futebol moderno…
Os golos que já nem sabemos se vão ser golos (VAR - ainda numa fase incipiente, verdade seja dita) corta a emoção. Foi golo ou não foi golo? Festeja-se ou não?
Os jogos que já nem podemos ver em sinal aberto (nos anos ‘90 havia jogos da Liga todos os fins de semana em sinal aberto). Vá lá que ainda temos obviamente os jogos da equipa de todos nós em canal aberto e a Taça. Também era só o que faltava… A FPF é pública.
A desigualdade perante as equipas milionárias (suportada muitas vezes por regimes atrozes), saudades de ver grandes gerações de jogadores de clubes “menos” grandes. Hoje é impossível. Em 1, 2 anos um grande jogador é “raptado”. Como é que um clube português pode ter a hipótese de voltar a ser campeão europeu? Perdeu-se esse sonho…
A excessiva descaracterização dos clubes com jogadores que não estão identificados com os clubes, apenas como um meio para fugir para outras ligas.
Jogadores vaidosos mais preocupados com redes sociais do que em fazer autocrítica após um jogo. Os “likes” dos fãs vão desculpar tudo. O futebol é um desporto colectivo…
A idolatria desmesurada por jogadores de futebol tornando-os autênticos deuses pós-modernos e ai de qualquer crítica aos mesmos (!), é visto como uma heresia...
A overdose de programas de futebol na televisão, que servem de promoção pessoal para comentadores e “comentadeiros” promovendo facciosismos, maniqueísmos e ódios.
Pessoas que não gostam de futebol, mas apenas e só dos seus clubes.
O agendamento abusivo de canais televisivos sobre os jogos, determinando o dia e a hora.
A invasão de gestores que não entendem nada de futebol, que não conhecem nada do balneário, que vêem o futebol como uma folha de excel. Sempre com visões meramente economicistas. Quem não percebe de futebol, não pode ganhar, se não ganha, não há dinheiro!...
Receio que no futuro, a Europa copie os EUA e coloque mais paragens de tempo (que irão cortar o ritmo de jogo) para ter mais publicidade como acontece nos desportos americanos.
Uma Liga dos Campeões, Europa e Conferência que são uma confusão, onde há desafios com equipas só uma vez em casa ou fora. Até acabaram com a regra do golo fora, que tornava estas taças especiais! Saudades das competições europeias antigas.
O próximo Mundial de seleções (2026) com 48 equipas (!). Apuramento de seleções de baixa qualidade, nivelamento por baixo da qualidade dos jogos, vulgarização do Mundial. O número ideal é 32 como estava.
Jogos e mais jogos, cansando os jogadores (que são extremamente bem pagos) para multiplicar por milhões e mais milhões.
A UEFA e a FIFA estão a destruir o futebol. Estes senhores roubaram o desporto do povo e entregaram-no a senhores poderosos e “gulosos”.
Enquanto, mais me privam do futebol genuíno, mais recorro às minhas gravações de futebol dos anos ‘80 e ‘90 quando o futebol era muitíssimo melhor!...
Rodrigo Costa