Será que Marco Paulo se chamava João Paulo quando cantou pela primeira vez na Madeira?
A notícia da morte de Marco Paulo gerou centenas de comentários nas redes sociais, a maioria dos quais a lamentar o sucedido e a elogiar as qualidades do artista. Outros aproveitaram para recordar alguns aspectos da sua carreira, como a sua ligação à Madeira. Por exemplo, o músico madeirense Hélder Gonçalves (viola baixo) referiu que a primeira vez que o cantor esteve no Funchal foi “nos anos 60 (…) a actuar com o nome de João Paulo”. Será que foi mesmo assim?
Marco Paulo é o nome artístico por que ficou conhecido João Simão da Silva, cantor nascido a 21 de Janeiro de 1945 em Mourão, no Alentejo. Desde cedo revelou queda para a música. Subiu ao palco pela primeira vez aos 7 anos, interpretando o tema ‘Campanera’ de Joselito nas festas de Alenquer. Depois passou pelo rancho folclórico de Alenquer. Em 1963 foi viver para o Barreiro, onde teve as primeiras aulas de canto com a cantora lírica Corina Freire. Num dos seus ensaios, a cantora Cidália Meireles reparou no talento do jovem de 17 anos e pô-lo a actuar a 9 de Abril de 1965 num programa que tinha na RTP chamado ‘Tu Cá, Tu Lá’. Nessa primeira performance televisiva foi apresentado com o nome artístico João Paulo.
E foi efectivamente com o nome João Paulo que no final de Julho de 1965 surgiu o primeiro convite para actuar na Madeira, na Feira Popular do Marítimo, que se realizava nos jardins do Campo D. Carlos I (Almirante Reis). A acompanhá-lo esteve o conhecido conjunto madeirense ‘Demónios Negros’, constituído pelos músicos Luís Jardim (viola ritmo), Óscar Gonçalves (viola solo), Tiago Camacho (viola baixo) e Alberto Manso (bateria). O espectáculo correu tão bem e agradou tanto ao público, que o grupo acabou por dar vários espectáculos nos dias subsequentes, os quais não estavam inicialmente programados. O sucesso levou a que o ‘Diário de Notícias’ e o ‘Jornal da Madeira’ tivessem publicado entrevistas com o “cançonetista” a 31 de Julho e a 1 de Agosto de 1965, respectivamente. "Chegou desconhecido à Madeira e regressa ao Continente com a fama na bagagem o artista João Paulo" era o título dessa primeira entrevista ao DIÁRIO (ver imagem em anexo).
Esse contrato para actuar na Madeira constituiu a sua primeira saída de Portugal continental e acabou por marcar o início da profissionalização e a sua entrada definitiva no mundo da música. No ano seguinte (1966), já com o nome artístico Marco Paulo, foi editado o seu primeiro disco, com os temas ‘Não Sei’, ‘Estive Enamorado’, ‘O Mal às Vezes é Um Bem’ e ‘Vê’.
Em 2016, numa grande entrevista de vida à revista ‘Notícias Magazine’, Marco Paulo recordou esse capítulo no Funchal: “Uma colega minha do Barreiro, Mariete Pessanha, indicou o meu nome para a abertura da Madalena Iglésias na Madeira. Era uma grande vedeta, estava no auge, tinha de ser, portanto, alguém com boa voz. E eles aceitaram. Correu tudo tão bem e foi tudo tão bonito que então, sim, decidi deixar o escritório e passar a ser profissional”.
No comentário que publicou hoje no Facebook, Hélder Gonçalves refere que o cantor “mudou o nome artístico para Marco Paulo” na transição de 1965 para 1966 porque na altura já havia “o conjunto académico madeirense João Paulo, com Sérgio Borges”. Esta explicação é corroborada na mesma entrevista à revista ‘Notícias Magazine’. “A troca do nome foi uma exigência da produtora. Era para ser João Paulo mas como havia o Conjunto João Paulo foi preciso pensar em alternativas. Eu gostava muito de Paulo. Lembrei-me então de Marco, outro dos meus nomes favoritos”, assumiu o cantor.
O comentário de Hélder Gonçalves contém, contudo, uma pequena imprecisão. O músico madeirense refere que o cantor actuou “na Quermesse do Clube Desportivo Nacional, acontecimento que tinha lugar nos Jardins da Quinta Vigia (hoje Casino da Madeira)”, quando na realidade esteve na Feira Popular do Marítimo, nos jardins do Almirante Reis.