Conselho da Europa alarmado com "discurso de ódio" em Itália
O Conselho da Europa reconheceu estar alarmado com o aumento do "discurso de ódio" em Itália na sequência de um relatório ontem publicado, que mereceu críticas do Presidente da República e do Governo italianos.
Vinculada ao Conselho da Europa, a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) analisou o panorama dos direitos humanos em Itália por cinco anos e publicou hoje um relatório que indica a crescente xenofobia no "discurso público" e as "conotações extremamente divisivas e hostis" do discurso político em relação aos refugiados, aos cidadãos italianos de origem imigrante ou às pessoas LGBT+.
"O discurso de ódio, inclusivamente de líderes com altas responsabilidades políticas, raramente é contestado", refere o organismo especializado em questões relacionadas com discriminação.
A ECRI indica que os migrantes irregulares estão "expostos a elevados riscos de exploração laboral" e "raramente denunciam esses abusos por medo de serem deportados".
Já as pessoas ciganas continuam a ser alvo de despejos forçados, "contrariamente aos padrões internacionais", apesar de o número que vive em acampamentos ter "diminuído consideravelmente".
Classificada no 34.º lugar entre os 49 países europeus na proteção legal e política de pessoas LGBT+, segundo um 'ranking' da ILGA-Europa, organização não-governamental que luta pelos direitos das pessoas LGBTQ, a Itália "ainda não proíbe explicitamente" a discriminação com base na orientação sexual ou na identidade de género.
As pessoas LGBTQ "continuam a ser alvo de preconceitos e discriminação no seu dia a dia", assinala o relatório.
O Presidente da República italiana, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra, Georgia Meloni, criticaram hoje o relatório, em particular as acusações dirigidas às forças policiais, que a ECRI acusou de realizar "perfilamento racial" às custas dos "pessoas ciganas e de ascendência africana".
Num nota enviada à imprensa, Sergio Mattarella disse ter telefonado ao diretor-geral de Segurança Pública, Vittorio Pisani, para lhe expressar "a sua estima e apoio às forças policiais", enquanto a chefe de Governo vincou que, na polícia, trabalham "homens e mulheres que, todos os dias, trabalham com dedicação e abnegação para garantir a segurança de todos os cidadãos, sem distinção".
"Eles merecem respeito, não tais insultos", escreveu Giorgia Meloni na rede social X (antigo Twitter).
Já Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e chefe da Liga, uma das forças da coligação governamental de direita e extrema-direita, considerou o relatório um ataque "vergonhoso" por parte de uma organização "inútil", financiada pelos impostos italianos.
"Se estes senhores amam tanto os ciganos e os imigrantes ilegais, que os levem todos para a sua casa em Estrasburgo", afirmou na rede social X.
O deputado de esquerda Aboubakar Soumahoro, na oposição, saudou o relatório da ECRI que, segundo ele, "evidencia um mal que continua a fazer vítimas entre migrantes, requerentes de asilo, minorias religiosas e italianos de origem estrangeira".
Com sede em Estrasburgo, o Conselho da Europa tem 46 países membros e é responsável pela defesa dos valores da democracia e dos direitos humanos no continente.