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Ulrich diz que contribuintes não suportaram "um cêntimo" da resolução

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Foto Leonardo Negrão / Global Imagens

O presidente do conselho de administração do BPI, Fernando Ulrich, afirmou hoje que os contribuintes não gastaram dinheiro com a resolução do Banco Espírito Santo (BES) e defendeu que a responsabilidade do colapso não foi do Banco de Portugal.

"Estouraram 20 'bis' [mil milhões de euros]. Os contribuintes não suportaram nem vão suportar um cêntimo. Quem perdeu foram os acionistas do BES, os obrigacionistas que passaram para o 'banco mau', os bancos - através do Fundo de Resolução - e os clientes que compraram papel comercial", declarou o atual 'chairman' do BPI.

Ouvido como testemunha no quinto dia do julgamento do processo BES/GES, numa audição marcada por alguns momentos mais tensos, Fernando Ulrich vincou que só conhece três dos 18 arguidos, ao notar que deviam estar também em julgamento os conselhos de administração do BES e do GES, considerando que a ruína do Grupo Espírito Santo deveria ser tratada judicialmente como "gestão danosa".

"Na altura estava muito preocupado com o impacto que a resolução podia ter para todos os bancos (e para o BPI), poderia ter destruído um terço do nosso capital... e destruiu, mas como foi distribuído por 40 anos tornou-se indolor. Do ponto de vista do interesse público, achei que acabou por ser um problema bem resolvido. Não gostei na altura, mas não houve crise sistémica, não houve fuga de depósitos, não houve perda de confiança na divida soberana portuguesa ou nos bancos", referiu o banqueiro sobre a medida de resolução aplicada ao BES.

Fernando Ulrich criticou o rumo da inquirição e vaticinou que o "julgamento vai durar anos", ao que a presidente do coletivo de juízes, Helena Susano, contrapôs questionando se o 'chairman' do BPI tinha alguma "bola de cristal" e procurou limitar o que designou de "estados de alma" nas respostas de Ulrich. No entanto, o banqueiro expressou ainda dois desejos pessoais para o desfecho deste julgamento.

"Que encontrem soluções que possam compensar - ainda que parcialmente - as vítimas e que possa sair daqui uma pedagogia para as próximas gerações do que não se deve fazer. O governo estava errado, a gestão foi imprudente... e dos arguidos eu só conheço três. Há alguma coisa errada aqui", sintetizou.

Sobre a guerra e a negociação entre Pedro Queiroz Pereira e Ricardo Salgado em torno do controlo da Semapa, o 'chairman' do BPI confirmou que esteve em muitas reuniões ao lado do falecido industrial, uma vez que o banco que liderava era um dos principais financiadores da Semapa, mas salientou que a negociação "durou muito tempo" e que acabou por não ir até à fase final das conversações entre as duas partes.

Para o 'chairman' do BPI, os sucessivos aumentos de capital realizados no BES, mesmo sendo vistos publicamente no período da 'troika', segundo o próprio, como um sinal de força nos mercados, demonstravam a fragilidade da instituição liderada por Ricardo Salgado.

"Nesse período a CGD, o BCP e o BES fizeram aumentos de capital em muito maior dimensão do que os dividendos que distribuiu aos acionistas, enquanto o BPI foi ao contrário. E como esses bancos não fizeram aquisições nesse período, para mim eram um sinal de fraqueza e não de força", explicou.

O julgamento do processo BES/GES continua na próxima segunda-feira.

O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.

Além de Ricardo Salgado, estão também em julgamento outros 17 arguidos, nomeadamente Amílcar Morais Pires, Manuel Espírito Santo Silva, Isabel Almeida, Machado da Cruz, António Soares, Paulo Ferreira, Pedro Almeida Costa, Cláudia Boal Faria, Nuno Escudeiro, João Martins Pereira, Etienne Cadosch, Michel Creton, Pedro Serra e Pedro Pinto, bem como as sociedades Rio Forte Investments, Espírito Santo Irmãos, SGPS e Eurofin.

Segundo o MP, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.