DNOTICIAS.PT
Fact Check Madeira

Será o ‘Tejo’ um navio tão antigo que se torna inadequado para servir a Madeira?

None

A notícia do DIÁRIO, na edição on-line de sexta-feira, dia 18 deste mês, a dar conta de que o NRP Tejo havia embatido nas rochas, junto aos armazém da Porto Santo Line, quando pretendia deixar o Porto do Funchal, suscitou um conjunto alargado de comentários (mais de uma centena) no Facebook. A notícia explicou que o navio seguiu em frente, quando era pretendido ir para trás, para depois deixar o Porto do Funchal, onde se encontrava atracado.

Muitos dos comentários são irónicos e fazem humor, o que incluiu atribuir o incidente a distração, incompetência e consumo de álcool. Há, depois, um conjunto de comentários que, de forma pouco educação, centram o problema em questões políticas regionais que, na verdade, nada têm a ver com o assunto.

Por fim, mas não menos importante, há um conjunto de leitores que criticam o que classificam como falta de condições das embarcações da Marinha Portuguesa, resultante da sua idade e da falta de vistorias. É neste aspecto que nos vamos centrar.

Serão os navios da Marinha Portuguesa tão velhos que justifiquem este tipo de incidentes, como sugerem vários leitores nos comentários deixados à notícia?

Para verificarmos a hipótese de a idade ser determinante no desempenho dos actuais meios da Marinha, em especial, aos que têm estado ao serviço na Madeira, fizemos um levantamento da idade de tais meios, considerando somente as fragatas, as corvetas, os patrulhas oceânicos e os patrulhas.

O NRP (Navio da República Portuguesa) Tejo está ao serviço da Marinha Portuguesa desde 2016, mas foi construído em 1995. Esteve ao serviço da Holanda (Países Baixos), até aquisição por Portugal, juntamente com outros patrulhas.

Foram todos modernizados e colocados ao serviço da Marinha. Entre esses patrulhas conta-se o NRP Mondego que, em 2023, falhou uma missão de vigilância de um navio russo, por a tripulação se ter recusado a fazer-se ao mar, alegando falta de condições. O navio haveria de ter de ser rebocado para o Caniçal, numa durante uma missão posterior às Selvagens.

A Marinha ainda tem ao serviço um patrulha bem mais antigo. O NRP Zaire é de 1971, tal como a corveta António Enes, ainda a democracia era uma miragem em Portugal e o País tinha um império colonial.

As fragatas portuguesas têm data de construção de 1991 e 1992, apesar de algumas terem ingressado ao serviço da Marinha em 2009 e 2010, depois de adquiridas à Holanda.

A maior parte dos meios em análise é de construção dos anos 90. Mas existem quatro patrulhas oceânicos, navios que, para um leigo, se pode dizer que se aproximam de uma fragata e que foram construídos em Portugal, tendo entrado ao serviço da Marinha entre 2010 e 2018. São, para um navio, efectivos jovens. Têm em média 9 anos, mas a idade média dos navios considerados nesta análise é de quase 30 anos.

Vejamos, agora, o que acontece com outras marinhas do Mundo. Para isso vamo-nos socorrer de notícias do defensenews.com, do csis.org, da naval-technology.com, da wdmmw.org e da globalfirepower.com.

A China tem uma das marinhas mais jovens do Mundo, com cerca de 70% das suas unidades aumentadas ao serviço depois de 2010. Em média 12 anos.

Já os Estados Unidos estão com uma frota envelhecida e está a ficar mais velha, tendo havido a decisão de aumentar o tempo de serviço de muitas unidades. Várias vão ultrapassar os 50 anos. Ainda assim, algumas fontes dizem que a idade média é de cerca de 20 a 25 anos.

A Rússia também tem uma idade média considerável, variando entre 20 e 30 anos, consoante das fontes. As idades médias das unidades da marinha britânica variam entre 16 e 20 anos e a da França entre 15 e 25 anos.

A Espanha tem meios navais com uma média de idade entre 15 e 23 anos e a do Canadá pouco ultrapassa os 15 anos.

Um dos elementos, que se retiram da informação consultada, é que várias marinhas estão a tentar renovar as frotas, conjugando navios mais antigos com os que vão sendo aumentados ao efectivo.

Tendo em conta as idades médias das marinhas referidas e a dos meios da Marinha Portuguesa e, dentro desta, em especial, a dos meios em missão na Madeira, verifica-se que a idade dos mesmos não é determinante de qualquer acidente ou incidente. Poderá ser a manutenção, operação ou outros factores, mas não a idade em si mesma. Um dos colossos mundiais, os Estados Unidos, tem muitos navios com mais de 30 e 40 anos de serviço. Além disso, há pequenos acidentes e incidentes que acontecem com os navios independentemente da idade. Até com os novos.

Por isso, as referidas afirmações dos leitores do DIÁRIO são avaliadas como falsas.

“A Madeira merecia melhor” e “essas sucatas da Marinha” – Y. Vieira e M. Sá – no Facebook