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UE, China e Rússia defendem Guterres na ONU e EUA ignoram críticas de Israel

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Foto EPA/STEPHANI SPINDEL

Os embaixadores de França, Reino Unido, China e Rússia nas Nações Unidas (ONU) defenderam hoje António Guterres, após o secretário-geral da organizaçao ter sido declarado 'persona non grata' por Israel, enquanto os Estados Unidos ignoraram o assunto.

Numa sessão de emergência do Conselho de Segurança, o embaixador francês, Nicolas de Rivière, não mencionou Israel, mas quis sublinhar que Guterres "tem o total apoio e confiança de França", enquanto a sua colega britânica, Barbara Woodward, também destacou o seu "apoio total e inequívoco" a Guterres e a toda a ONU pela forma como "estão a lidar com a crise".

Perante o próprio Guterres, o embaixador chinês, Fu Cong, reiterou "o apoio resoluto da China ao secretário-geral pelo seu trabalho" e opôs-se "às acusações infundadas que Israel levantou contra" o ex-primeiro-ministro português.

O embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, foi mesmo o mais enfático na defesa do líder das Nações Unidas: a declaração israelita "é uma bofetada na cara não só da ONU, mas de todos nós", advogou.

"Apelamos a todos os membros do Conselho e à ONU para que reajam contra este ato ultrajante", instou ainda o diplomata.

Ficou a faltar uma mensagem semelhante do quinto membro permanente do Conselho de Segurança: os Estados Unidos, aliado inabalável de Israel.

A sua embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, não fez a menor alusão ao assunto e limitou-se a agradecer a Guterres pelo seu discurso de hoje perante o Conselho.

Entre os restantes países, destacou-se a mensagem da Argélia, cujo embaixador, Amar Bendjama, manifestou "a total solidariedade da Argélia e a admiração e apoio ao secretário-geral após a incrível decisão" de Israel, que "reflete um claro desdém do sistema das Nações Unidas e da comunidade internacional como um todo".

Também o Governo português instou hoje Israel a "reconsiderar a decisão" de declarar o secretário-geral das Nações Unidas "persona non grata", que lamentou "profundamente", defendendo a "missão indispensável" de António Guterres para garantir o diálogo e a paz.

"O Ministério dos Negócios Estrangeiros lamenta profundamente a decisão do Governo de Israel de declarar o secretário-geral da ONU, António Guterres, 'persona non grata'", escreveu o ministério tutelado por Paulo Rangel, na rede social X.

A missão de Guterres, salientou, é "indispensável para assegurar o diálogo, a paz e o multilateralismo".

"Insta-se o Governo de Israel a reconsiderar a sua decisão", apelou ainda o Governo português.

O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, anunciou hoje ter declarado o secretário-geral da ONU "persona non grata" no país, criticando-o por não ter condenado o ataque massivo do Irão a Israel na noite de terça-feira.

"Qualquer pessoa que não possa condenar inequivocamente o ataque hediondo do Irão a Israel não merece pôr os pés em solo israelita. Estamos a lidar com um secretário-geral anti-Israel, que apoia terroristas, violadores e assassinos", disse Katz num comunicado.

Na terça-feira, Guterres condenou o alargamento do conflito no Médio Oriente "com escalada após escalada" e apelou a um cessar-fogo imediato após o Irão atacar Israel com mísseis.

"Condeno o alargamento do conflito no Médio Oriente com escalada após escalada. Isso deve parar. Precisamos absolutamente de um cessar-fogo", frisou o ex-primeiro-ministro português, através da rede social X.

António Guterres reagiu hoje às críticas de Israel, afirmando ter condenado implicitamente o regime iraniano numa declaração divulgada na noite de terça-feira.

"Tal como fiz em relação ao ataque iraniano de abril, e como deveria ter sido óbvio que fiz ontem [terça-feira] no contexto da condenação que expressei, condeno veementemente o ataque massivo com mísseis do Irão contra Israel", sublinhou Guterres durante a reunião de hoje do Conselho de Segurança.