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Crónicas

O novo detetor de mentiras

A ciência mostra que já na Idade da Pedra se mentia. Num tempo em que a força bruta prevalecia, quando a mesma não era suficiente para resolver certos temas, usavam-se outras técnicas de manipulação e engano para iludir os outros. Com a evolução da sociedade a mesma manteve-se firme, acompanhando o desenvolvimento com novas estratégias e métodos mais sofisticados. O filósofo e psicólogo David Livingstone Smith, diretor do Instituto de Ciência Cognitiva e Psicologia Evolutiva da Universidade da Nova Inglaterra, EUA dizia que “sem a mentira, a vida em sociedade entraria em colapso. Se duvida disso, basta imaginar o que seria a vida se resolvesse dizer a todos os seus amigos o que realmente pensa de cada um deles”. Dizia também que “em muitos aspectos, mentir é um passaporte para o sucesso nos negócios, na política e na vida social. Indivíduos que não sabem mentir são párias sociais.”

Na verdade existem duas grandes razões para que não se fale verdade. Por uma questão de carácter ou por mero instinto de sobrevivência. Na primeira ela aparece por tudo e por nada, nas coisas mais simples e nas mais graves, até quando ela é pífia e desnecessária. Há quem a tenha entranhada no sangue e que dela faça vida. Quem vive dessa forma passa o tempo numa convulsão pessoal e interior arrasadora na permanência do receito de ser apanhado enganando-se a ela própria e acreditando até no que diz. Conheço quem faça uso dessa ferramenta de forma tão obvia e persistente que chega a ser triste perceber de fora, o enredo em que se vai enrolando com a ideia que todos à volta acreditam. Em relação à parte da sobrevivência é quando a mentira se usa de forma estratégica em negócios ou em situações de perigo e conflito iminente e mentir parece ser a única forma de sair de determinado problema. Nas relações ela é usada para esconder ou escamotear situações mais dúbias e até as que não representam problema mas que aparentam outra coisa.

Vem este tema ao caso porque nas ultimas semanas testei, a convite de um amigo, uma ferramenta de inteligência artificial que consegue “ir para lá do firmamento” e encontrar aquilo que à primeira vista parece escondido. Permite por exemplo nas redes sociais perceber quem nos bloqueou. Vou dar o exemplo do Instagram, esta plataforma encontra os espaços temporais onde fomos bloqueados ou nos restringiram a visualização de certos posts e vai ao ponto de nos “entregar” o preciso post em que fomos bloqueados para que o possamos ver. Permite também que vejamos quais são as definições de outras pessoas e os seus amigos e guarda um histórico de um ano (pelo menos para já). Enquanto isso no Japão está a ser desenvolvido um novo modelo de aprendizagem através da mesma IA que promete revelar a verdade olhando para os nossos rostos e ouvindo os batimentos cardíacos. Uma nova forma de Polígrafo que pretende utilizar as expressões faciais como uma janela para a alma.

Sem darmos conta disso, existem pequenos movimentos, quase imperceptíveis, que podem revelar um mundo de emoções e intenções. Com uma máquina capaz de analisar milhares de pontos de dados em frações de segundo, existe a probabilidade de estas pistas mais subtis serem reconhecidas com uma precisão sobre-humana. Se caminhamos para o fim das mentiras? Claro que não. Mas com as novas tecnologias também ela terá que encontrar novos espaços, sendo que cada vez é mais difícil escondermos para onde vamos, com quem estamos e a que horas fizemos isto ou aquilo. Só falta este novo detentor de mentiras fazer-nos crescer o nariz…