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Duplo homicídio condenado, Mondlane convoca manifestação

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O duplo homicídio de dois apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane foi hoje condenado em Moçambique e pela comunidade internacional, que associou o crime à tensão pós-eleitoral, e levou à convocação de uma manifestação de repúdio para segunda-feira.

Elvino Dias, advogado de Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), partido que apoia o candidato presidencial, foram mortos a tiro na sexta-feira à noite, no centro da capital moçambicana.

A polícia, que avançou a tese de que a motivação do crime terá sido uma desavença conjugal, disse que um outro ocupante da viatura onde seguiam, uma mulher que viajava nos bancos traseiros, foi igualmente atingida a tiro, tendo sido transportada ao Hospital Central de Maputo.

Falando hoje no local do crime, onde decorreu uma vigília, o candidato convocou marchas pacíficas em Moçambique para segunda-feira repudiando o homicídio dos dois apoiantes, dizendo, citando a bíblia, que o "sangue" das vítimas "tem de ser vingado" e responsabilizou as Forças de Defesa e Segurança (FDS), garantindo ter provas.

O presidente do Podemos, Albino Forquilha, considerou que as duas vítimas foram mortas por "motivos políticos" e que se tratou de uma "morte planificada e preparada".

O Governo moçambicano, pela voz do ministro do Interior, Pascoal Ronda, condenou os homicídios, pediu serenidade e prometeu celeridade na investigação.

Já a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, pediu às autoridades policiais para "clarificarem" o duplo homicídio, que considerou um "ato macabro", enquanto o candidato que apoia, Daniel Chapo, pediu uma "investigação célere e imparcial" ao crime, que classificou como "afronta à democracia", exortando a que "se faça valer a lei".

Da parte da Renamo, o maior partido da oposição moçambicana, o presidente Ossufo Momade classificou o crime de "afronta direta" a princípios "fundamentais".

Outros quadrantes da sociedade moçambicana manifestaram a sua consternação, com dezenas de advogados moçambicanos, que se concentraram no local do crime, passando a mensagem para que a classe não se acobarde "neste momento muito difícil", enquanto os juízes falaram num "ato covarde e hediondo".

A partir de Portugal, o escritor Mia Couto disse que o crime foi contra uma nação inteira e que o próximo Presidente irá governar um país em ruínas.

A Comissão Nacional Dos Direitos Humanos de Moçambique exigiu às autoridades celeridade para esclarecer os contornos do crime e a influente ativista Graça Machel, viúva do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, afirmou hoje que não se pode "fazer de conta que não aconteceu nada".

O duplo homicídio mereceu ainda a condenação internacional, com o Governo português a condenar liminarmente os assassínios, e o Presidente de Portugal a manifestar preocupação com a situação em Moçambique.

Estados Unidos da América (EUA), Canadá, Noruega, Suíça e Reino Unido juntaram-se à condenação e pediram uma investigação "rápida e exaustiva".

Da parte dos observadores às eleições gerais de 09 de outubro, a chefe da missão da União Europeia (UE), Laura Ballarín, falou num "ato hediondo" e pediu uma rápida investigação, enquanto o português João Gomes Cravinho, líder da missão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) disse que não é possível dissociar o duplo homicídio do processo eleitoral e que o crime contribui para adensar as dúvidas.

De Angola, a Handeka/Movimento Cívico Mudei repudiou "vigorosamente" o recurso a "mortes encomendadas" para silenciar adversários políticos e apelou à resiliência e coragem dos moçambicanos para levar os responsáveis à justiça.