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(Im)Pacto para o Futuro

No passado mês de setembro, realizou-se a Cimeira do Futuro, apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma “oportunidade única numa geração para reparar a confiança corroída e demonstrar que a cooperação internacional pode efetivamente atingir metas acordadas e enfrentar ameaças e oportunidades emergentes”.

A Cimeira, que aconteceu um mês antes da ONU comemorar 79 anos desde a sua fundação, surge na sequência do relatório “A Nossa Agenda Comum”, sendo uma ideia e resposta do Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a um pedido dos Estados-membros no sentido de debater ideias sobre a melhor forma de responder aos desafios atuais e futuros, proporcionando um presente melhor e preservando o futuro.

Face ao atual clima político e aos constrangimentos sociais e económicos a nível internacional, a cimeira é o reflexo da perceção, ou melhor, da certeza de que vivemos num mundo multipolar, e que enfrenta significativas dificuldades para atingir os objetivos estabelecidos em termos de cooperação internacional, não estando a conseguir responder de forma eficaz aos novos desafios ou oportunidades.

O progresso evidente que tem acontecido por todo o mundo não tem conseguido distribuir, de forma equitativa, os correspondentes benefícios, com significativa parte da população a ser deixada para trás.

Ameaças como o clima, os conflitos, as pandemias, bem como os riscos associados às novas tecnologias, continuam a agudizar-se e também se fazem sentir de forma desigual.

A complexidade e constante mutação do nosso tempo e a velocidade da nossa evolução recente têm tornado obsoletos os sistemas antigos de resposta e de cooperação multilateral. Assim sendo, a Cimeira foi desenhada como uma oportunidade para encontrarmos uma melhor solução, restaurar a confiança e delinear uma nova trajetória para o mundo.

A pergunta que se impõe é: Existe outra maneira de governar o mundo? Ainda vamos a tempo de tornar o futuro mais justo?

Antes de mais, a resposta tem de assentar em duas palavras-chaves: esperança e confiança.

Plantar hoje a semente do futuro, sabendo que, para além da responsabilização dos governos no cumprimento dos compromissos assumidos, também todos nós temos de fazer a nossa parte.

Decorrente da Cimeira do Futuro, foi apresentado um Pacto para o Futuro, que pode ser uma das ferramentas para o nosso futuro comum. Trata-se de um documento com forte pendor social, em especial no que concerne aos direitos humanos e ao desenvolvimento sustentável. Na implementação deste roteiro global, há uma ênfase na participação mais ativa, significativa e atuante dos jovens e das mulheres na tomada de decisões a todos os níveis, realçando a sua importância como forças vitais para a transformação e humanização que urge fazer sentir-se na governação e no mundo em geral.

Outro eixo fundamental apresentado para a construção de um futuro sustentável para todos, é o incremento da luta a favor da erradicação da pobreza, quiçá o maior desafio do nosso tempo. A este propósito, concordo plenamente com Marcelo Rebelo de Sousa quando, esta semana, referiu que a estratégia de luta contra a pobreza tem de ser “suficientemente elástica, abrangente, flexível, para não adiar o futuro, porque não se adia o futuro de quem sofre tanto”.

Sem menosprezar o importante contributo do Pacto, não podemos escamotear o receio de que permaneça apenas como um conjunto das boas intenções, um manifesto simbólico do que é o futuro que todos desejamos, em que se preconiza uma visão do mundo com respeito pela multitude de ideias e valores, mas sem adesão à realidade possível na atualidade.

Alcançar o objetivo de paz e desenvolvimento sustentável ainda exige uma longa caminhada, mas os conflitos, problemas e divergências entre países estão a acontecer agora. Assim, temos de encarar o Pacto para o Futuro como um documento dinâmico, que exige um esforço contínuo, confiante e ambicioso de todos os países, entidades e cidadãos para que se concretizem os objetivos inerentes ao mesmo. Para que não seja um documento de vontades, mas sim de ações concretas e com impacto no dia a dia das pessoas, torna-se igualmente de vital importância dar voz à sociedade civil, no sentido de garantir transparência, responsabilização, participação nas tomadas de decisão, e respeito pelas liberdades e direitos cívicos.

Apesar dos desafios, há motivos para alimentar a esperança na mudança que torne realidade um futuro de dignidade, oportunidade, prosperidade e inclusão.

Em suma, está nas mãos de todos nós assumir um pacto com o futuro, que nos permita alcançar um devir sustentável, numa nova arquitetura de paz, e cumprindo o desígnio imperativo de progresso social de “não se deixar ninguém para trás”.

P.S.1: Num artigo que fala de futuro, e sabendo nós como o futuro é feito de Juventude e Educação, dou os meus parabéns à Escola Secundária Francisco Franco, pelos seus 135 anos, celebrados no passado dia 9 de outubro.

P.S.2: E como o futuro também é indissociável de uma comunicação social forte, independente e credível, expresso as minhas felicitações ao Diário de Notícias da Madeira, neste mês em que comemora 148 anos.