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Suicídios, jornalistas e redes sociais

Têm vindo a público diversas notícias sobre o aumento de suicídios na Região Autónoma da Madeira. Em 12 anos, cerca de 300, sendo que mais de 90% das pessoas que morreram por suicídio apresentavam doença psiquiátrica. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a causa de mais de 700 mil mortes por ano no Mundo.

São números preocupantes que nos fazem refletir sobre este tema tão delicado. Contudo, a minha reflexão será, como é habitual, em termos comunicacionais.

Cabe aos meios de comunicação social fazer uma correta cobertura jornalística de casos de suicídio, não dando pormenores da forma encontrada para pôr fim a vida pelo suicida nem deixando passar a ideia de que o suicídio foi a solução encontrada para acabar com qualquer tipo de problema. Também devem evitar títulos sensacionalistas, não publicar as notas de suicídio ou divulgar imagens e vídeos sobre o trágico acontecimento, entre outros.

Os jornalistas, por norma, cumprem rigorosamente as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Código Deontológico porque têm consciência de que estes pormenores podem aumentar o risco de imitação por parte da população.

Contudo, todos nós já ouvimos alguém comentar alguma notícia sobre um suicídio. Muitas vezes, as pessoas questionam-se sobre o conteúdo das notícias, quando estas referem que alguém caiu de uma ponte, por exemplo. “Não caiu... atirou-se”.

E também já vimos como os conteúdos, incluindo as notícias, são partilhados nas redes sociais sem qualquer cuidado. Pelo contrário, muitas vezes, abre-se rapidamente um debate para tentar saber pormenores sobre os contornos do acontecimento.

Certamente, as pessoas não o fazem por mal, mas por desconhecimento dos efeitos destas publicações. E, na verdade, ao contrário dos jornalistas, não estão obrigadas ao cumprimento de um código deontológico.

No entanto, é importante que todos percebamos que a divulgação de determinados conteúdos de morte por suicídio pode incitar a outros suicídios, denominados de suicídios por imitação, enquanto publicações de superação de uma crise suicida podem fazer com que alguém que esteja a pensar cometer um ato de suicídio mude de ideias.

Portanto, uma vez que nas redes sociais todos assumimos um papel ativo, é essencial optar por uma abordagem consciente e preventiva. Todos podemos evitar um suicídio. Tal como os jornalistas, o nosso papel, enquanto criadores e difusores de conteúdos deveria ser responsável.

Ainda sobre esta temática, importa referir que, no Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, 10 de setembro, a OMS definiu, para o próximo triénio, até 2026, o tema “Mudando a Narrativa sobre o Suicídio”, com o intuito de aumentar a consciência sobre a importância da redução do estigma e encorajamento do diálogo aberto para a prevenção. A ideia é que a troca de impressões possa contribuir para uma sociedade solidária e compreensiva.

Então, devemos estar atentos a fatores de risco, como doenças mentais, consumo excessivo de álcool, solidão, perda de um ente querido, dificuldades financeiras, doenças graves, bullying, etc.

Quem sabe, através da moderação do nosso discurso e falando de forma aberta sobre o suicídio (este não deve ser um assunto tabu) e as formas de prevenção, poderemos eventualmente contribuir para evitar uma fatalidade.