Não foi, nem é, seguramente, pelos porto-santenses

Porto Santo - grandeza árida, serenidade, beleza natural, reflexo da magnitude de um exímio Criador.

Até quando?

A inabilidade, a inércia, a incompetência e até a incúria de uns quantos (i)responsáveis têm levado à descaracterização sistemática desta bela ilha. Basta um olhar mais atento sobre as fotos de um Porto Santo antigo e compará-las com as de hoje. Em nome de um (duvidoso) progresso e desenvolvimento económico foi-se adulterando a paisagem, ignorando velhas tradições, deixando que o tempo na sua marcha inexorável fosse apagando algumas marcas da nossa identidade cultural. Pressente-se um rumo de destruição latente de tal modo que num futuro (se o houver) mais ou menos próximo ou mais longínquo pouco restará para as gerações que virão. Nada voltará a ser como era antes. Sou, obviamente, pelo progresso, preservando sempre a nossa identidade, com tudo o que isso significa.

Tudo o que foi e é feito nesta Terra, segundo reza a história, teve ou tem os porto-santenses como primeira prioridade. Tudo é para as pessoas e pelas pessoas. Para quem? Quais?

Para os jovens com formação superior que foram obrigados a emigrar?

Para os que ficaram cá auferindo um ordenado de miséria num emprego de precariedade?

Para os que, mesmo trabalhando arduamente, não conseguem fazer uma vida com alguma dignidade?

Para os que são obrigados a permanecer na casa dos pais porque as rendas são inacessíveis e não têm habitação própria?

Foi pelos porto-santenses que se entregou grande parte da orla marítima ao investimento turístico, privando-nos de tantos acessos à praia?

Foi para os porto-santenses que se concessionou tantas parcelas da praia anexas a esses empreendimentos?

É para e pelos porto-santenses que se vai permitir a construção junto ao cordão dunar, desde o Ribeiro Coxino ao Penedo do Sono?

Quantos porto-santenses terão capacidade financeira para adquirir terreno nessa área e construir a sua habitação?

Quantos empregos serão criados para os jovens e jovens adultos, que querem ficar no Porto Santo, a partir desse investimento privado?

Estão a pensar em nós ou no capital proveniente de hectares de betão derramado nas dunas?

Pelo andar da carruagem, não tarda nada, esta ilha será apenas uma estância para ricos.

Há gente capaz de matar os pais só para ser convidado para o baile dos órfãos...

É preciso continuar a ser mentalmente irreverente. A escolha não é ignorar. Não nos podemos alhear do que acontece à nossa volta, sob pena de aniquilarmos a nossa própria existência enquanto elemento de uma entidade colectiva. É pela falta de coragem que florescem muitos vícios.

O incauto hábito de dizer o que penso pode até despoletar alguns espasmos cementatórios que, de alguma forma, não me impedirão de continuar manifestando a minha opinião, que só a mim vincula, sempre que eu entender e pelo direito que me confere a Constituição da República Portuguesa, em relação à liberdade de expressão.

Dispenso políticos do “penso rápido e mal” e acho que ser decente, sério e honesto devia ser obrigatório.

Madalena Castro