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Fact Check Madeira

Será Santa Cruz pioneira na redução da poluição luminosa na Madeira?

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Hélder Santos/Aspress/Arquivo

Calheta vai reduzir iluminação pública para proteger aves marinhas’ e ‘CMF instala luminárias protectoras da biodiversidade’. Estes são dois títulos publicados, na segunda-feira, pelo DIÁRIO, um na edição on-line e outro na de papel. Os dois tratam dos mesmos temas: poluição luminosa, protecção da natureza e poupança energética.

No entanto, apesar de serem os mais recentes, não são os únicos no mesmo sentido. Por exemplo, no início de Outubro, outro texto do DIÁRIO dava conta de troca de luminárias, em Câmara de Lobos e, ao longo dos últimos anos, várias outras notícias foram revelando iniciativas semelhantes. Ora de sensibilização dos dirigentes governamentais, autarcas e população em geral, ora de iniciativas concretas por parte de entidades públicas.

Num dos textos recentes, a propósito da troca sistemática de luminárias de grande luminosidade e consumo, um leitor veio desvalorizar as ‘parangonas’ garantindo que o Município de Santa Cruz há muito tempo que tem iniciativas de redução da poluição luminosa. Será verdadeiro o que afirma?

A verificação da veracidade da afirmação fundamentou-se na pesquisa de notícias, publicadas na imprensa da Madeira, incluindo a expressão ‘poluição luminosa’ e a palavra ‘aves’, nos últimos dez anos. A inclusão da palavra aves deveu-se ao facto de a esmagadora maioria das iniciativas existentes resultar em grande parte do trabalho de parceria promovido pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, entidade que coordena o projecto LIFE Natura@night - cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia – e que tem como parceiros a Câmara Municipal de Câmara de Lobos, a Câmara do Funchal, a Câmara de Santa Cruz, a Câmara de Machico, a Câmara de Santana, a Câmara de Santa Cruz da Graciosa, a Direcção Regional de Políticas Marítimas, o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, o Instituto de Astrofísica de Canárias, o Instituto Tecnológico de Canárias, a Fluxo de Luz e a Sociedade Espanhola de Ornitologia.

Apesar do nosso foco ter sido os últimos dez anos, mereceu-nos alguma atenção o que aconteceu antes. Uma das constatações foi que a SPEA, muito antes do projecto LIFE Natura@night vem a sensibilizar cidadãos e entidades públicas para a questão das aves e para a necessidade de reduzir a polução luminosa, em especial, junto ao mar e nos trajectos de aves marinhas.

No entanto, as primeiras notícias que detectámos, até nos anos 80 e 90 do século XX, referindo a expressão ‘poluição luminosa’ foi no âmbito da astronomia e não relacionada com a vida das aves (se existiram, não as encontrámos).

Regressemos, agora, ao objecto desta verificação.

Nos últimos dez anos, foram regulares as notícias sobre acções de sensibilização para a necessidade de reduzir a poluição luminosa na Região, em especial, para poupar a vida às aves marinhas. A redução de iluminação por parte dos municípios foi uma das formas. Mas, muitas vezes, tratou-se de algo pontual que, depois voltou ao normal (ambiente nocturno com poluição luminosa).

Em 2018, o Município de Santa Cruz tornou-se o primeiro na Madeira a ter um Plano Director para a Iluminação Pública. Na sequência desse instrumento, o Município começou, entre outras medidas, a trocar luminárias com lâmpadas de sódio por Led.

Essa medida, que já levou a substituição de mais de mil estruturas permitiu uma poupança energética de cerca de 80% nas zonas de intervenção, garante ao DIÁRIO Filipe Sousa, presidente do Município. Ao início, alvo de detracção, o exemplo de Santa Cruz tem sido seguido. A iluminação da via rápida é caso referido por Filipe Sousa.

Com um Plano Director de Iluminação Pública, o Município ganhou vantagem quando aderiu ao projecto LIFE Natura@night, com o impulso, ao nível do financiamento, que veio dar.

A redução do consumo em 80%, afirmada por Filipe Sousa, vem ao encontro de um dos argumentos da SPEA, quando afirma que a protecção das aves marinhas também permite poupanças na factura da luz.

Como aqui fica claro, existem vários municípios da Região empenhados em reduzir a poluição luminosa, com benefício claro, em especial, para as aves marinhas. Uma realidade que em muito se fica a dever ao empenho da SPEA. Nesse âmbito, confirma-se ser verdadeira a afirmação que aponta ao Município de Santa Cruz como pioneiro na mudança sistemática de luminárias, com o objectivo de reduzir a luz desnecessária no espaço público. Isto não invalida, nem esquece o trabalho de outro como o Funchal, que há muito aposta na iluminação led, por exemplo, nos túneis da cidade.

“Mesmo sem apoios do PPD, Santa Cruz faz (substituição de luminárias públicas) há muito tempo” – A. Nóbrega – Comentário no Facebook