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Domingo de Outono

Ontem (escrevo na 2ª feira) foi domingo e, tal como dizia Tony de Matos na sua canção, “aos domingos o céu é mais azul”.

Logo pela manhã o meu neto do meio (tem seis anos acabados de fazer), enquanto se espreguiçava perguntou: “hoje não tenho de ir à escola?” Não, respondi.

“Não tenho que fazer o que fiz ontem…” cogitou

(ontem foi sábado, dia de actividades extra-curriculares)

“Não tenho que fazer o que tenho que fazer amanhã…”

(amanhã seria 2ª feira, dia de ir à escola)

É assim que deveríamos pensar nos nossos dias: não tenho que fazer o que fiz ontem; não tenho que fazer o que tenho que fazer amanhã.

Cada dia é um dia e não vale a pena estarmos a fazer o que fizemos ontem, já é passado, nem vale a pena antecipar o que temos que fazer amanhã, ainda é futuro.

Muito se tem falado nestes últimos dias sobre os ontens e os amanhãs nas diversas discussões, mais ou menos acaloradas, sobre o famoso Orçamento de Estado. Se vai ser aprovado, se vai ser chumbado, se votam a favor, se votam contra, se se abstêm, tudo com as ameaças veladas de eventual crise política e de novas eleições, todos de calculadora na mão a antever possíveis ganhos ou perdas

(calma, em breve será por cá que teremos um filme semelhante).

Se é domingo, mais vale aproveitá-lo não fazendo o que foi feito ontem nem fazendo o que só deverá ser feito amanhã!

É preciso equilíbrio!

Equilíbrio é aquilo que precisamos quando estando sobre um só pé, tentamos vestir aquela peça de vestuário mais íntima que protege e aconchega as partes íntimas do nosso ser. É um desafio diário e, à medida que a idade avança, mais difícil se torna quando a tentativa é executada de pé, bem erectos.

Levanta uma perna, mão encostada na parede e uma perna já está. Tira a mão da parede para segurar como deve ser a veste, curva um pouco, levanta a perna contra-lateral, enfia-se a dita perna no orifício que está destinado, coloca-se alguma força e pressão para que o equilíbrio não desajude e, neste momento crucial em que a perna vai rapidamente em movimento descendente, prende-se o dedo mínimo na borda! Aqui há duas opções (lembrem-se de que a mão já não está encostada na parede, ou no móvel ali perto): ou deixamos rasgar a veste, ou caímos, tentando que seja para cima da cama e não para a parede próxima que pode ter consequências mais graves. Habitualmente a segunda opção é a opção, porque andar a rasgar vestuário íntimo sai caro!

Andam assim tanto os nossos políticos (calma, em breve será por cá) quando verberam uns contra os outros, como a miríade de comentadores que doutamente comentam os equilíbrios que se vão conhecendo:

os dedinhos enfiam-se-lhes onde não deviam e a queda é inevitável, com a consequente concussão craniana que atordoa qualquer mortal!

E diz-se que se o Orçamento do Estado não for aprovado vem aí uma tempestade, com raios, trovões e, imagine-se, eleições, essa coisa demoníaca que só serve para atrapalhar.

Que as haja de 4 em 4 anos, ainda vá porque sempre dá tempo para o povo esquecer o que foi prometido antes, mas encurtar esse período, coisa atroz!

E eu que sempre pensei que a democracia, o processo democrático, era isso mesmo: quando as coisas não estão bem, quando os políticos não se entendem, há eleições para que o povo “diga” se quer continuar ou mudar. Acho eu!

Às vezes se houver perda de equilíbrio lá vem a concussão na caixinha dos pirulitos, instala-se a confusão e é um Deus-me-valha dos diabos.

Pois que haja um orçamento, com ou sem eleições, até porque assim ficamos a saber com alguma aproximação quanto é que o sr. Estado vem buscar aos bolsos depauperados do Sr. Povo, porque sim, esse é o fim, o objectivo principal de qualquer orçamento de estado: meter a mão no bolso do povo!

Voltando à canção e sendo o céu mais azul aos domingos, aproveitemo-los para descansar do que já fizemos e do que ainda há por fazer e, já que é de orçamento que se fala, não esqueçamos o adágio que diz:

“se pensas que só roubar igrejas é pecado, estás enganado”!