Merecemos mais
1. Não sou de viajar na maionese, nem para muito longe. Gosto do perto e não me envolvo em miragens. Sei bem o que somos, onde estamos e o que deveríamos ser: uma Suíça, como há uma série delas por essa Europa fora, o que diz da exequibilidade de, também, o podermos ser.
2. A transformação da Região Autónoma da Madeira num centro de excelência no Atlântico dependerá sempre de uma estratégia integrada e de longo prazo que tenha como pilares fundamentais a estabilidade económica e fiscal, o desenvolvimento de infraestruturas modernas, a inovação tecnológica e a criação de uma identidade própria baseada na qualidade de vida e na sustentabilidade.
Estabilidade económica e fiscal: um ambiente propício ao investimento
O primeiro passo para a Madeira alcançar um estatuto de relevância global passa pela criação de um ambiente económico estável e atrativo, que possa captar investimento estrangeiro e potenciar o crescimento das empresas locais. Para isso, é crucial implementar um sistema fiscal competitivo e previsível, que ofereça incentivos claros a empresas e investidores, sobretudo nas áreas da inovação, turismo de alta qualidade, serviços financeiros e energias renováveis.
Uma estratégia eficaz envolveria o melhoramento e alargamento da nossa zona económica especial, o CINM, de modo a atrair empresas internacionais, oferecendo taxas de imposto reduzidas ou isenções temporárias, simplificação da burocracia e garantias de proteção jurídica, e dar passos certos e seguros rumo à implementação de um sistema fiscal próprio, ou seja, fazer o mais depressa possível o que não fizemos em 50 anos. Ao mesmo tempo, promover uma diversificação económica, reduzindo a dependência de sectores como o turismo de massas e apostando em sectores estratégicos como a competitividade fiscal, a tecnologia, a biotecnologia e o comércio internacional.
Adicionalmente, o desenvolvimento de um mercado financeiro dinâmico e bem regulado pode transformar-nos num hub internacional de serviços financeiros, aproveitando a sua localização estratégica entre a Europa, a África e as Américas. A criação de um ambiente de negócios estável e de confiança é essencial para atrair capitais globais e promover o crescimento económico sustentável na região.
Desenvolvimento de infraestruturas e aposta na conectividade
Assegurar que as infraestruturas acompanhem o ritmo da economia global moderna. Isso inclui não apenas infraestruturas físicas como estradas, portos e aeroportos, mas também infraestruturas tecnológicas, como redes de comunicações e “internet” de alta velocidade e energia barata.
A Madeira tem de garantir uma conectividade eficiente com os principais centros económicos mundiais, facilitando o transporte de mercadorias e a mobilidade de profissionais altamente qualificados. Um aeroporto de grande capacidade, com voos diretos para as principais cidades europeias e para os Estados Unidos, por exemplo, seria um factor diferenciador.
No domínio tecnológico, deveríamos tornar-nos numa referência em termos de conectividade digital, investindo mais em redes de fibra ótica e 5G (a velocidade e cobertura está ainda longe de ser a melhor), criando um ambiente ideal para a fixação de empresas tecnológicas e para o desenvolvimento de startups. O investimento em parques tecnológicos e em incubadoras de empresas poderá consolidar a região como um centro de inovação e investigação. As parcerias com universidades e centros de investigação de renome internacional também desempenharão um papel vital na criação de um ecossistema tecnológico vibrante.
Fomento da inovação e diversificação económica
Para garantir a sustentabilidade e a resiliência económica da Madeira, é fundamental diversificar as fontes de receita, evitando uma excessiva dependência do turismo e promovendo sectores emergentes de alto valor acrescentado. A Madeira deve posicionar-se como um local ideal para a inovação e para a criação de novas indústrias, apostando na economia digital, no comércio eletrónico, na biotecnologia, na inteligência artificial e nas energias renováveis.
A criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo é um pilar fundamental neste processo. Incentivos à criação de startups, programas de financiamento, bem como a redução da carga burocrática, Irão impulsionar o aparecimento de novos projetos inovadores. A Madeira tem o potencial para se transformar num ponto de encontro para empreendedores, investidores e profissionais especializados, oferecendo uma qualidade de vida elevada e um ambiente de negócios competitivo.
Promoção de uma identidade baseada na qualidade de vida e na sustentabilidade
Um dos trunfos mais importantes da Madeira é a sua qualidade de vida, marcada por um clima ameno, uma natureza exuberante e uma forte coesão social. Para capitalizar esta vantagem, é essencial desenvolver uma imagem de marca que associe a região à sustentabilidade e ao bem-estar.
A Madeira deverá reforçar a aposta em políticas de preservação ambiental, garantindo a proteção dos seus recursos naturais e a promoção de um turismo sustentável e de qualidade. A implementação de práticas ecológicas, como a promoção de energias limpas e a redução de emissões de carbono, deve ser uma prioridade em todos os sectores económicos.
No domínio social, a Madeira deverá afirmar-se como uma região que proporciona um equilíbrio perfeito entre vida profissional e pessoal, com serviços públicos de excelência nas áreas da saúde, educação e segurança. A promoção de uma rede de cuidados de saúde de alta qualidade e de um sistema educativo alinhado com as exigências do século XXI são fundamentais para atrair residentes de elevado nível socioeconómico e reter talentos locais.
Além disso, o reforço da cultura e da identidade madeirense, através da valorização do património imaterial, da gastronomia, do artesanato e das tradições locais, contribuirá para a criação de uma marca regional forte e diferenciadora. A Madeira pode, assim, posicionar-se como um destino de eleição para quem procura um estilo de vida equilibrado, sustentável e em harmonia com a natureza.
Fortalecimento das instituições e da governança regional
Nenhuma estratégia de desenvolvimento terá sucesso sem a implementação de políticas de governança sólidas e transparentes. A Madeira deve assegurar que as suas instituições são fortes, eficientes e capazes de responder às necessidades de uma economia moderna e globalizada. A desburocratização, a simplificação dos processos administrativos e a aposta na digitalização dos serviços públicos são medidas cruciais para melhorar a eficiência da administração regional e facilitar a vida dos cidadãos e das empresas.
É necessário promover uma cultura de transparência, responsabilidade e inovação no sector público, assegurando que as políticas públicas são orientadas para o desenvolvimento económico sustentável e para a melhoria da qualidade de vida dos madeirenses. A aposta na formação contínua dos recursos humanos, tanto no sector público como no privado, também contribuirá para criar uma mão-de-obra altamente qualificada e preparada para os desafios futuros.
3. A transformação da Madeira num centro de excelência no Atlântico não é um projeto a curto prazo, mas sim o resultado de uma visão estratégica ambiciosa e bem estruturada. Entender que muito pouco foi alcançado em 50 anos de Autonomia. Apostar numa economia diversificada, num ambiente fiscal competitivo, em infraestruturas modernas e numa qualidade de vida elevada permitirá à Região tornar-se uma região próspera, atractiva e preparada para os desafios do futuro. A integração destas diversas áreas criará as condições ideais para que a Madeira e os madeirenses se afirmem como um exemplo de sucesso e desenvolvimento no Atlântico.
4. O DN fez anos na semana passada. Muitos parabéns ao decano e a todos os que lá trabalham e trabalharam.