Na decisiva Carolina do Norte, voto anti-sistema rejeita Harris e Trump
Na Carolina do Norte, um dos estados cruciais para as eleições norte-americanas de novembro e onde os eleitores já começaram a receber boletins em casa, Donald Trump e Kamala Harris enfrentam um voto anti-sistema que rejeita ambos.
O desvio de votos para candidatos de 'terceira via' é tanto mais crítico para os cabeças-de-lista democrata e republicano quanto as sondagens - agregadas pela plataforma FiveThirtyEight - dão 47,7% de intenções de voto a Trump e 47,5% a Kamala Harris, um empate que é mais que técnico.
Não há nenhuma tendência definida num estado que em 2020 deu os 16 votos do colégio eleitoral a Donald Trump. Para Jeremy Ross, de 38 anos, nenhum dos candidatos dos dois grandes partidos é interessante.
"O problema mais importante para mim é os candidatos quererem expandir o poder do governo em todos os níveis, particularmente ao nível federal", disse à Lusa o eleitor, que vai votar por correspondência na Carolina do Norte.
"Sou muito cético quando à autoridade e muito crítico da capacidade do governo para gerir vários temas", explicou. "Por isso, estou à procura das medidas menos autoritárias".
Ross disse que vai votar no candidato presidencial do partido Libertário, Chase Oliver, porque acredita ser importante continuar a ter terceiras vias ao sistema de dois partidos que governa os Estados Unidos praticamente desde a sua fundação.
"Penso que é incrivelmente importante assegurar acesso ao boletim de voto e reconhecimento federal de outros partidos, se queremos conseguir fazer alguma coisa em política", considerou o eleitor.
Em 2020, o candidato libertário Jo Jorgensen teve quase 1,8 milhões de votos, correspondentes a 1,2% do total.
Embora o candidato deste ciclo, Chase Oliver, não tenha qualquer hipótese de ser eleito, Jeremy Ross não considera que o seu voto seja desperdiçado. "Pelo contrário. Sinto que a coisa com mais impacto que podemos fazer é votar no candidato de um terceiro partido, para assegurar acesso a futuras eleições", frisou.
A Carolina do Norte é considerada crucial para as eleições, estando na lista dos dez estados com mais votos do colégio eleitoral. A região lida neste momento com as consequências do furacão Helene, que trouxe ventos e chuvas torrenciais e provocou pelo menos 54 mortos.
Se partidos como o Libertário continuarem a receber uma percentagem não irrisória dos votos, por exemplo 5%, isso garante que continuam a ter direito a financiamento eleitoral e formas de se candidatarem outra vez, visto que é caro e complexo obter acesso aos boletins de voto.
"O governo é gerido por dois grandes partidos que não gostam de concorrência", considerou Jeremy Ross. "E por isso moldaram as regras para que seja assim. A única forma de subverter o sistema é assegurar que chegamos a certos marcos nas eleições".
Antes do debate presidencial, Ross calculava que Donald Trump seria reeleito. Agora, considera que é imprevisível, mas Kamala Harris tem ligeiramente mais hipóteses.
Em termos de questões que pesem na escolha de outros candidatos, o eleitor de 37 anos não é movido por nenhuma. Quer "mais liberdades civis para as pessoas".
Ross também desvaloriza a ideia de que esta é a eleição mais importante da sua vida, algo que diz ouvir há pelo menos vinte anos, desde que começou a votar.
"Em 2020, eu disse às pessoas que se voltassem a dizer-me que esta seria a eleição mais importante da minha vida, ia rir na cara delas", afirmou.
Ainda assim, Jeremy Ross admitiu que há muitos eleitores preocupados, temendo que os Estados Unidos estejam à beira da ditadura -- tanto à esquerda como à direita.