Por arames
Incomoda constatar que há um desconto de 75% nas tarifas, que chegam aos 15 euros por voo
Três secretários regionais deverão ser constituídos arguidos na operação ‘Ab Initio’. Se juntarmos o presidente do Governo, já arguido noutro processo judicial, corremos o sério risco de ter meio executivo sob suspeita, constituindo uma situação inédita a nível nacional. Se é verdade que o estatuto de arguido não impõe qualquer grau de culpabilidade, também é verdade que gera na sociedade incerteza, desconfiança e variadíssimas dúvidas. Se do ponto de vista legal nada obsta à continuidade em funções dos membros do governo afectados, do prisma político fragiliza-os irremediavelmente. Ainda para mais atinge secretários com áreas determinantes, como é o caso das Finanças, das Infraestruturas e da Saúde. Apesar de Miguel Albuquerque repetir à exaustão que a sua condição e a dos seus três secretários em nada “fragiliza” a acção do executivo, a percepção pública revela exactamente o contrário. Ter meio governo sob suspeita de vários crimes não é um cartão de visita apetecível nem recomendável. O que diria Albuquerque se tal acontecesse com um governo de outra cor política ou com um partido da oposição cuja direcção fosse constituída por membros arguidos em duas investigações judiciais distintas? Certamente não classificaria a situação de “normal”. Há uma linha vermelha moral (palavra maçadora e ‘mesquinha’ que os políticos gostam apenas de usar para proveito próprio), a mesma que foi estabelecida por Marques Mendes quando liderou o PSD, nos anos 2000, que deveria ser observada e não esquecida. Quem está a contas com a Justiça deve permanecer em cargos de natureza política?
Em nenhum dos processos em curso ninguém foi julgado. E isso é preponderante. Mas a suspeição mina a pouca confiança que os cidadãos depositam na classe política. E este é um debate que não pode ser feito apenas quando dá jeito, mas sempre que se justifique. O futuro deste governo regional é incerto e assenta numa base de apoio parlamentar dúbia, refém do tacticismo partidário de terceiros sem nenhuma garantia de terminar a legislatura. Está preso por arames. Resta saber até quando.
Enquanto assistimos à degradação do elenco governativo, olhamos para o principal partido da oposição, o PS, e vislumbramos um regresso ao passado do qual o partido parece nunca querer sair. Mais do mesmo, num exercício que só prejudica os socialistas madeirenses que, mesmo perante a maior fragilidade de sempre que atinge o PSD, não consegue capitalizar um voto a seu favor, preferindo perder tempo com audiências espúrias na Assembleia da República para tratar de assuntos regionais. Pior era mesmo impossível. Haverá uma terceira via que consiga credibilizar a mensagem e galvanizar a sociedade?
A política de mobilidade existente na Região continua a não servir os madeirenses. Ter de avançar com quantias consideráveis para sair das ilhas é aviltante e gera revolta. Miguel de Sousa voltou ao tema esta semana, na sua habitual crónica do DIÁRIO, para comparar a nossa realidade à dos vizinhos canários. Basta uma visita rápida aos sites de duas companhias aéreas espanholas para nos apercebermos da diferença abissal que um residente das Canárias paga por uma ligação ao continente espanhol face a um madeirense ao continente português. Incomoda constatar que há um desconto de 75% nas tarifas, que chegam aos 15 euros por voo, numa viagem que pode durar mais do dobro do tempo da que liga o Funchal a Lisboa. Sem ‘promoções’ nem outras complicações, os canários pagam apenas o valor da tarifa. Por cá nós ainda estamos na pré-histórica discussão sobre a existência de uma plataforma que agilize o procedimento de reembolso que actualmente só é comparável às exigências burocráticas de países de terceiro mundo.
Para exacerbar ainda mais a frustração da nossa condição insular, ficámos a saber que haverá um passe de 20 euros por mês para andar de comboio em todo o território nacional. Continua ou não a haver portugueses de primeira e portugueses de segunda? Que respondam os governos da República e o Regional.