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O Cedro do Líbano

No ano passado, fiz parte de uma delegação internacional que viajou até ao Líbano para conhecer a realidade da população refugiada e migrante nesse país do Oriente Médio. Ao chegar a Beirute, surgiu um vínculo inesperado: o cedro - a árvore nacional do Líbano. Ainda que de distinta espécie, o cedro é também uma referência para aqueles que, como eu, cresceram na freguesia de São Roque do Faial, onde diversos sítios levam o nome dessa árvore que, outrora, predominava no território. Lugares como Chão do Cedro Gordo, Pico do Cedro Gordo, Achada do Cedro Gordo e Fajã do Cedro Gordo são a prova inequívoca da importância histórica e cultural dos cedros para a freguesia.

De forma inesperada, aquela terra, geograficamente tão distante, parecia próxima através deste símbolo comum que une diferentes culturas e gerações.

Atualmente, o Líbano está no centro das atenções internacionais, pela guerra e pela sua complexa situação humanitária. O cenário no Líbano foi agravado por uma série de eventos: o colapso do sistema bancário, a crise económica e a explosão no porto de Beirute em 2020. Estes fatores contribuíram para o aumento do fluxo migratório de libaneses, que procura melhores condições de vida fora do país. O Líbano, que já é um centro de emigração há décadas, agora vê um número crescente dos seus cidadãos deixar o país a um ritmo sem precedentes.

O Líbano, com uma população de cerca de 5,6 milhões de habitantes, acolhe aproximadamente 1,5 milhões de refugiados sírios, o que transforma o país no maior recetor de refugiados per capita no mundo. O panorama migratório no Líbano é moldado por três fatores principais: o seu papel como um ponto de emigração, a sua condição de país de acolhida para refugiados e o seu estatuto como destino de trabalhadores imigrantes. Esse cenário cria uma realidade complexa e difícil de gerir tanto para as autoridades locais como para a comunidade internacional.

E quanto aos refugiados sírios residentes no Líbano, qual será o seu destino? A Síria voltou recentemente a integrar a Liga Árabe, após 12 anos de exclusão, entrando numa fase que alguns especialistas consideram de “normalização”. No entanto, apesar dessa possível estabilização política, a opção de um retorno massivo à Síria continua a ser posta de lado.

O destino dos libaneses que fogem da guerra é ainda uma questão em aberto. Estará a União Europeia (UE) disposta a implementar uma diretiva de proteção temporária, semelhante à aplicada aos deslocados ucranianos? Embora ainda seja cedo para saber qual será o papel da UE nesta nova crise migratória resultante dos conflitos no Oriente Médio, é certo que a Europa enfrentará diversos desafios para encontrar um equilíbrio entre a ajuda humanitária e a manutenção da coesão social entre os seus 27 Estados-Membros.