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O custo oculto da demência: quem está realmente preparado?

A demência é uma das maiores crises de saúde pública da atualidade, mas pouco se fala sobre o seu verdadeiro custo. Quando mencionamos os custos com o tratamento, muitos pensam imediatamente em medicamentos, consultas médicas ou internamentos hospitalares. No entanto, o impacto financeiro e emocional da demência vai muito além do que as estatísticas oficiais revelam.

Em Portugal, estima-se que existam cerca de 200 mil pessoas com demência, sendo que a doença de Alzheimer representa cerca de 60 a 70% dos casos. Na Madeira, o cenário é idêntico, com muitos doentes diagnosticados e um número significativo de casos não detetados, dado o estigma associado e à falta de diagnóstico precoce. Estes números aumentam e pressionam cada vez mais os recursos de saúde e as famílias.

Como profissional de saúde, observo o peso silencioso que esta condição impõe, não apenas ao sistema de saúde, mas principalmente às famílias, que muitas vezes ficam sozinhas a carregar este fardo. A demência não afeta apenas a pessoa diagnosticada, mas toda a sua rede de apoio e suporte. Os cuidadores, muitas vezes familiares próximos, abandonam carreiras, comprometem a sua própria saúde física e mental, e sacrificam muitas vezes o seu bem-estar emocional para fornecer cuidados persistentes. Este é um custo não contabilizado, mas com uma dimensão gigante.

Para quando o atrevimento de calcular o impacto financeiro de uma filha que tem de deixar o trabalho para cuidar da mãe com Alzheimer? Ou o desgaste emocional e físico de um filho que, sem apoio adequado, vê-se obrigado a enfrentar esta batalha sozinho?

Estamos prontos para enfrentar a realidade? A sociedade não tem ainda respostas estruturadas para estas questões, e isto precisa de mudar. A mudança inicia-se na

prevenção e diagnóstico precoce!

As soluções paliativas que temos, como horas de apoio domiciliário ou internamento em lares, são insuficientes. São os custos intangíveis, como o tempo, o stress e a perda de qualidade de vida, que continuamos a ignorar até ao dia que infelizmente

sofremos os mesmos na pele. Se continuarmos a tratar a demência como uma simples patologia clínica, ignorando o seu impacto social, estaremos a falhar na nossa resposta a esta crise. Não podemos continuar a tratar os sinais e sintomas e ignorar as consequências devastadoras para as famílias e para a sociedade como um todo.

O custo de uma pessoa com demência vai muito além dos orçamentos de custos em saúde. Se deixarmos de considerar esta realidade, somos apenas elementos de um sistema que ignora todos os custos inerentes a esta patologia. O futuro exigirá muito mais do que aquilo que estamos a contribuir agora – será que estamos preparados?