Inferno em duas rodas
Nos últimos tempos, o barulho infernal que domina a via rápida e outras estradas tem sido um flagelo diário, causado por motociclistas que, de forma abusiva e ilegal, alteram as suas motos para produzir o máximo ruído possível, como se isso os tornasse mais homens aos olhos dos outros. É como se o ruído fosse uma prova de valor ou força.
Como motociclista, sei bem o apelo do motor a rugir, mas o que tenho presenciado nas nossas estradas vai além de qualquer admiração pelo veículo. Trata-se de uma afronta à paz pública e ao bem-estar da sociedade. Motas com escapes diretos atravessam as estradas a fazer tanto barulho que parecem rasgar o próprio ar, deixando qualquer pessoa com ouvidos a doer. A questão não é só o incómodo; é a agressão sonora que invade, sem consentimento, a vida de quem simplesmente quer paz.
Há quem defenda que esse barulho serve para alertar os condutores distraídos. Mas, honestamente, quem não fica nervoso ao ver uma mota colada atrás, a berrar como um trovão descontrolado? Em vez de ajudar, distrai, desorienta e multiplica o risco de erro. Já tive experiências em que motos passaram por mim tão depressa e de forma tão violenta que o susto é inevitável. Ultrapassagens em tangentes perigosíssimas, que parecem brincadeiras mortais.
Tenho pena das pessoas que vivem à beira da via rápida quando grupos de motards passam à noite como se fosse uma etapa do Moto GP, atravessando túneis como uma onda ensurdecedora que invade a tranquilidade. Para quem vive nessa linha de fogo, deve ser um pesadelo interminável.
Nas redes sociais, vemos jovens – muitos nem têm 20 anos – exibindo as suas motos modificadas, vangloriando-se em vídeos onde fazem acrobacias ilegais, atingindo velocidades loucas de mais de 160 km/h em cavalo. É um convite à tragédia. Já não surpreende ver as notícias: mais um acidente com motos, mais uma vida jovem perdida. Quantos mais terão de morrer antes que algo seja feito? É um movimento que não conhece limites, uma anarquia total.
Fala-se tanto na falta de fiscalização, e com razão! Como pode ser possível que os sonómetros estejam parados por falta de ordem para serem calibrados? Que desculpa é essa? E onde está a polícia? Não é difícil saber que às quartas-feiras os motards vão todos para a serra de água virar ponchas, porque não se faz nada? Como podemos aceitar que os agentes, que agora vão receber aumentos de salário pelo “risco” que enfrentam, não se foquem mais contra esta loucura que cresce a cada dia?
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