Combater o idadismo é respeitar os direitos humanos, realça UMAR Madeira
O dia 1 de Outubro foi instituído em 1991 pela ONU (Organização das Nações Unidas) como sendo o Dia internacional das Pessoas Idosas e, desde então, tem sido comemorado como um dia onde as questões do envelhecimento estão em destaque no espaço de intervenção pública. Este dia existe para chamar a atenção e sensibilizar a sociedade para as questões que preocupam as pessoas mais velhas, e da necessidade que existe na sua protecção a todos os níveis. Respeitar as pessoas mais velhas com mais carinho, quer da sociedade quer da família, é uma necessidade do envelhecimento da população cada vez mais presente.
Segundo dados estatísticos (PORDATA), Portugal já ultrapassou as 3 mil pessoas com 100 anos. Incluindo outros escalões etários, Portugal tem mais de 2,5 milhões de pessoas com 65 anos ou mais. De um modo geral, desde 2019, a população idosa tem crescido mais de 2% ao ano. Por sua vez, os/as portugueses/as estão também mais sozinhos/as: mais de um milhão de pessoas vivem sós e, destas, mais de metade são idosas. Somos o 4º país da UE com maior percentagem de pessoas idosas a viver sozinhas.
Segundo a UMAR - Madeira (União de Mulheres Alternativa e Reposta), a proporção de pessoas com menos de 15 anos voltou a diminuir em 2023, representando 12,2% da população total. A proporção de pessoas idosas (população com 65 ou mais anos) manteve a tendência crescente dos últimos anos, atingindo 20,9% da população residente. Em consequência, o índice de envelhecimento voltou a aumentar, fixando-se em 171 pessoas idosas por cada 100 jovens, no final de 2023. Sabemos, também, que a Madeira é das regiões mais pobres do país. Para a população reformada, a taxa de risco de pobreza na RAM situou-se em 19,5% em 2022.
O idadismo, ou a discriminação baseada na idade, é uma forma de preconceito que afecta pessoas de todas as idades, mas que neste dia nos focaremos nas pessoas idosas. Se correlacionarmos o idadismo com o sexismo e a discriminação pelo aspeto físico, percebemos que, especificamente as mulheres mais velhas, sofrem de múltiplas discriminações, com impactos na sua vida social, familiar e profissional. UMAR Madeira
Diz a UMAR Madeira que, no mercado de trabalho, há mulheres que são desvalorizadas por serem consideradas “velhas”, ou por não terem um aspeto suficientemente “jovial” para uma determinada função.
Muitas são descartadas e substituídas por mulheres mais novas e que se encaixam em padrões impostos pela sociedade. Por sua vez, muitas mulheres que hoje se encontram reformadas recebem rendimentos mais baixos devido à desigualdade salarial e no acesso ao trabalho ao longo da sua vida, resultando numa maior dependência financeira da família ou do Estado, aumentando a sua vulnerabilidade e dificultando o seu acesso à saúde e à prática de atividades que podem contribuir para atrasar o processo natural de envelhecimento. E, se as mulheres mais velhas estão mais dependentes, tornam-se mais vulneráveis a situações de violência doméstica. De facto, segundo a APAV, em 2023 cerca de 1671 pessoas idosas pediram ajuda (média de 4 pedidos por dia). Por sua vez, os sinais que apresentam enquanto vítimas de violência doméstica são muito diversificados e abrangem alterações comportamentais, sinais físicos de violência e/ou negligência, abandono e isolamento. As mulheres continuam a ser as que mais sofrem abusos (76% dos casos). UMAR Madeira
A UMAR Madeira lembra que tem levado a cabo diversas iniciativas para combater as discriminações, incentivar a autoestima e a saúde mental e contribuir para a consciencialização para o que é violência, junto da população idosa.
Por sua vez, estamos a ultimar o estudo de caracterização dos/as jovens e das famílias no concelho do Funchal, em parceria com a Câmara Municipal do Funchal. Tivemos a participação de uma amostra de pessoas idosas, que responderam ao questionário de levantamento de dados do estudo através de entrevistas individuais, que garantem o total anonimato dos/as participantes e dos seus dados. Através deste trabalho e estudo, cujos resultados serão apresentados em seminário em dezembro deste ano, temos nos apercebido que o idadismo é uma realidade muito presente, sobretudo nas mulheres, e que a violência doméstica é muito frequente. Muitas das vítimas não chegam a fazer uma denúncia e a situação de violência termina por incapacidade do agressor, doença ou morte. Estes factos podem ser observados à luz da evolução das mentalidades, da influência da religião católica, das respostas existentes e da tipologia da própria violência. Também devido a alguma fragilidade decorrente do envelhecimento e de doenças crónicas, assim como do número crescente de famílias onde várias gerações coabitam – devido ao elevado custo de vida e cada vez mais difícil acesso à habitação –quando falamos de violência doméstica nas pessoas idosas, temos que referir também a violência exercida por filhos/as e outros familiares, e que inclui a violência física, psicológica, verbal e económica. UMAR Madeira
Por sua vez, a UMAR também tem trabalhado para preservar memórias de mulheres de várias gerações, onde se incluem as mulheres mais velhas, através da recolha das suas histórias de vida, para haver transmissão de saberes e combater a invisibilidade. Esta recolha está a ser feita no concelho de Santa Cruz e do Funchal, sendo lançados os livros durante o próximo ano.
Combater o idadismo é respeitar os direitos humanos. Perceber que as pessoas idosas, que também seremos se a nossa longevidade permitir, são pessoas, que merecem ser valorizadas, tratadas com respeito e que devem ter à sua disposição os recursos necessários para viver de forma ativa, saudável e feliz. Por sua vez, no que diz respeito às mulheres, é preciso repensar a forma como são tratadas ao longo de todas as fases da sua vida. É imperativo reconhecer os seus direitos, valorizar a sua experiência, promover a sua inclusão sem infantilizá-las por serem mais velhas e reconhecer a sua contribuição preciosa para a sociedade. UMAR Madeira
A UMAR termina, defendendo que "é necessário derrubar as barreiras e acabar com todas as discriminações, em particular, no dia que hoje se assinala, as baseadas no género e na idade. Só desta forma é possível edificar uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas".