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Brasil bem posicionado contra consequências de conflitos na Ucrânia e Médio Oriente

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Foto Shutterstock

O Brasil está bem posicionado para enfrentar dois dos três principais riscos geopolíticos, os conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia, mas é vulnerável à polarização política interna, segundo um relatório da consultora Eurasia. 

"O facto de ser um produtor de alimentos e de energia significa que o Brasil pode ter benefícios económicos de perturbações causadas por qualquer um dos riscos", referem os autores do relatório "Top Risks 2024". 

O fundador do Eurasia Group, Ian Bremmer, e o presidente, Cliff Kupchan, consideram que o país sul-americano "pode lucrar em geral com o desvio de investimentos no meio de um cenário global geopoliticamente litigioso".

"A competição para produzir minerais críticos para a economia verde e digital é um exemplo claro de uma oportunidade para o Brasil" vincam, numa referência às grandes reservas de grafite, importante para a produção de baterias de veículos eléctricos, de níquel, de fosfato e de outros minerais raros.

Embora as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia possam prejudicar a economia mundial através do aumento dos preços dos alimentos e da energia, o Brasil pode sofrer muito menos por ser um produtor de ambas as matérias-primas. 

"O aumento dos preços do petróleo em 2024 traduzir-se-ia num aumento dos preços dos combustíveis no mercado interno, mas também num aumento das receitas da produção de petróleo. A maior vulnerabilidade macroeconómica do Brasil reside nas suas contas fiscais, mas um aumento das receitas atenuaria esse problema", vinca o relatório. 

No entanto, os analistas da Eurasia salientam que o Brasil é um país dividido e polarizado politicamente, com baixos níveis de confiança na comunicação social, justiça e líderes políticos.

Um provável declínio na popularidade do Presidente, Lula da Silva, em 2024, na sequência de uma desaceleração económica, poderá estimular a oposição na preparação para as eleições de 2026, avisam. 

"O Brasil deve igualmente preparar-se para a potencial eleição de Donald Trump para a Casa Branca em janeiro próximo" e um arrefecimento e maior volatilidade das relações com os EUA, incluindo a nível económico. 

A Eurasia produz anualmente um relatório sobre os principais riscos geopolíticos mundiais para orientar governos, empresas e instituições a responderem às respetivas oportunidades e desafios.

Este ano, publicou análises mais elaboradas sobre regiões como a Europa e o Brasil e sobre o impacto do fenómeno climático El Niño em diferentes países como o Brasil ou Moçambique.  

A Eurasia antecipa que este fenómeno fará sentir-se sobretudo no primeiro semestre deste ano com "eventos climáticos extremos que causarão insegurança alimentar, aumentarão a escassez de água, perturbarão a logística, espalharão doenças e alimentarão a migração e a instabilidade política".

Nalgumas regiões, as condições meteorológicas extremas vão ameaçar a produção agrícola e a disponibilidade de alimentos, adiantam, resultando no aumento de preços de bens como cereais, óleo de palma, açúcar e café. 

"A seca na África Austral afectará particularmente a África do Sul, o Zimbabué e Moçambique, os maiores produtores agrícolas de trigo e milho da região, enquanto as secas no Brasil e na Austrália poderão restringir ainda mais o abastecimento de trigo, milho e arroz", estima o relatório.