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Fact Check Madeira

Grua existente na lota do Paul do Mar está mesmo avariada há meses?

Fotos da página facebook do presidente da Junta de Freguesia do Paul do Mar
Fotos da página facebook do presidente da Junta de Freguesia do Paul do Mar, Fotos DR

“É lamentável e incompreensível que a única grua existente no Porto do Paul do Mar para a descarga de peixe esteja avariada há meses, impossibilitando em alguns casos e condicionando noutros casos a descarga do pescado”. A denúncia foi feita no domingo, no Paul do Mar, pelo deputado do PCP na Assembleia Legislativa da Madeira, Ricardo Lume.

Mas será verdade que o equipamento está avariado há meses, com tudo o que isso acarreta para o normal funcionamento da actividade piscatória e para o trabalho dos pescadores?

Para responder a isto o DIÁRIO questionou a Secretaria Regional do Mar e Pescas, que confirma, efectivamente, que há problemas com o guindaste que serve a lota daquela freguesia do concelho da Calheta, mas recusa a acusação de que a avaria persiste há meses.

“Próximo da quadra do Natal foi registada uma avaria no guindaste de apoio à descarga do pescado na Lota do Paul do Mar”, assume, na resposta, a Direcção Regional de Pescas, para logo acrescentar que assim que foi detectada a avaria foi dado, prontamente, início “à preparação do respectivo procedimento com vista à orçamentação e reparação daquele equipamento, o que deverá acontecer brevemente, de acordo com os trâmites e disposições legais aplicáveis à contratação pública”.

No entanto, apesar da avaria, a Lota do Paul do Mar continuou a receber pescado. “Desde o dia 1 de Dezembro e até à presente data, foram descarregados perto de 850 Kg de peixe naquela infra-estrutura de apoio à actividade piscatória”, esclarece.

Numa análise por espécies descarregadas na Lota do Paul do Mar temos mais de 340 kg de gaiado, seguido de atum albacora com perto de 250 kg e próximo de 100 kg de abrótea de costa. Outras espécies capturadas e descarregadas naquela lota foram congro, fura-vasos, garoupa, moreia pintada, pargo legítimo, peixe carneiro e requeme.

“Ao contrário do que possam sugerir as declarações proferidas pelo dirigente comunista, o Governo Regional não esqueceu o Paul do Mar, muito pelo contrário, bastando, para isso, verificar as várias intervenções ali realizadas, de que é exemplo, os melhoramentos concretizados, no ano que agora terminou, pela Administração de Portos da Madeira – APRAM”, diz ainda.

Também na iniciativa de ontem, Ricardo Lume apontou o facto de “não ser permitido descarregar Atum Rabilho no Paul do Mar, levando a que todas as embarcações tenham de ir para o Funchal, perdendo assim tempo e acumulando um gasto enorme de combustível desnecessário, com perdas evidentes para a economia local do Paul do Mar”.

Mas porque é que a descarga não é permitida naquele local?

Explica a Secretaria Regional do Mar e Pescas que a proibição não advém da Região, mas tem sim a ver com uma definição a nível nacional. A Madeira solicitou que a situação fosse alterada, mas ainda sem resposta.

A saber, as descargas de rabilho são definidas por portaria do Ministério da Agricultura e do Mar, a qual “designa os portos para as descargas ou transbordos de espécies capturadas nas águas da União ou em áreas geridas por Organizações Regionais de Pesca, para determinadas espécies sujeitas a um plano plurianual”, esclarece a Direcção Regional de Pescas (DRP).

A portaria n.º 58/2014, publicada em Diário da República, no artigo 3.º, define a ‘Descarga de pescado capturado no âmbito de Organizações Regionais de Gestão das Pescas’, onde se lê: “Os portos designados para a descarga ou transbordo de atum-rabilho (Thunnus thynnus), capturado na área regulamentar da Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT), no Atlântico Este e Mediterrâneo, são: (…) b) Na Região Autónoma da Madeira: Funchal e Caniçal”.

Ou seja, actualmente, “o atum rabilho, bem como as espécies de profundidade, estão abrangidas por essa obrigação”. Por isso, neste particular, é verdadeira a afirmação do deputado do PCP, bem como são verdadeiras as reclamações que os pescadores têm vindo a manifestar.

A tutela lembra que os “Portos Designados” são fixados por Portaria Nacional e comunicados à Comissão Europeia. Para ser considerado como “Porto designado”, o porto ou local perto do litoral tem de satisfazer as seguintes condições: ter horários de desembarque ou transbordo estabelecidos; ter locais de desembarque ou transbordo estabelecidos e, por último, ter processos de inspeção e vigilância estabelecidos”.

A lista de Portos Designados foi inicialmente estabelecida em 2014, pela Portaria Nacional n.º 58/2014, de 7 de Março, tendo na altura sido seleccionados os portos de descarga que reuniam condições estruturais e funcionais do ponto de vista inspetivo de acordo com uma auditoria da Comissão Europeia, tendo a descarga destas espécies ficado condicionada aos portos que reuniam essas condições.

No entanto, “ultrapassados esses constrangimentos, já em 2017, solicitou a Direcção Regional de Pescas (DRP) à Direcção Geral de Recursos Naturais (DGRM) a alteração da portaria com a possibilidade de serem efectuadas descargas de espécies de profundidade no porto do Paul do Mar. Essa inclusão nunca aconteceu e a portaria manteve-se inalterada”.

Mais recentemente, em Janeiro de 2023, a Secretaria confirma que lhe foi dado conhecimento de uma proposta de alteração, que “nunca nos chegou oficialmente”, voltando a DRP a insistir na necessidade de serem alterados os portos designados para estas pescarias uma vez que estavam reunidas as condições para tal.

“Surpreendentemente, a primeira alteração à portaria foi publicada em Maio desse ano, Portaria n.º 139/2023, de 25 de Maio, não contemplando as alterações propostas pela RAM quer quanto aos portos autorizados para a descarga de atum rabilho, quer para as espécies de profundidade”, conclui.

Ainda que o pescado continue a ser descarregado na lota do Paul do Mar, desde o passado mês de Dezembro que o guindaste de apoio à lota está condicionado, com a Secretaria do Mar e Pescas a operacionalizar, desde a primeira hora, a sua reparação.