Três jornalistas mortos em Gaza incluindo filho de veterano da Aljazeera
Três jornalistas foram mortos hoje na Faixa de Gaza num aparente ataque israelita, incluindo Hamza al-Dahdouh, um dos filhos de Wael al-Dahdouh, o principal correspondente da televisão Aljazeera do Qatar no enclave palestiniano.
Wael al-Dahdouh já tinha perdido a mulher, dois outros filhos e um neto - e quase foi morto - no início da guerra, segundo a agência norte-americana AP.
Apesar do impacto devastador da guerra na família, Dahdouh tem continuado a fazer reportagens em Gaza, tornando-se um símbolo dos perigos enfrentados pelos jornalistas palestinianos, dezenas dos quais foram mortos enquanto cobriam o conflito.
"Hamza significava tudo para mim (...) enquanto nós estamos cheios de humanidade, eles [Israel] estão cheios de ódio assassino", disse Dahdouh à televisão Aljazeera, citado pela agência francesa AFP.
"Espero que o sangue do meu filho Hamza seja o último a ser derramado pelos jornalistas e pelos habitantes da Faixa de Gaza", acrescentou, a partir do hospital onde se encontrava, em lágrimas, abraçado ao corpo do filho, rodeado de familiares e jornalistas.
As autoridades de Gaza disseram que Hamza al-Dahdouh e Mustafa Thuraya foram mortos quando o carro em que viajavam foi alvejado durante em Rafah, no sul do enclave palestiniano.
Mustafa Thuraya, com cerca de 30 anos, trabalhava para a AFP desde 2019.
De acordo com os colegas da agência francesa, trabalhou também nas agências Reuters e AP, bem como no canal Aljazeera do Qatar e na CNN americana.
A AFP solicitou uma reação do exército israelita, que pediu as "coordenadas" exatas do ataque.
Um terceiro profissional da comunicação social, o fotojornalista Ali Salem Abu Ajwa, foi morto num ataque aéreo na cidade de Gaza, no norte do enclave, de acordo com a agência espanhola EFE.
O governo de Gaza, controlado pelo grupo islamita Hamas, condenou as mortes e denunciou a "tentativa falhada" de Israel de "obscurecer a verdade" ao atacar jornalistas.
"Apelamos aos sindicatos da imprensa e dos meios de comunicação social e às organizações jurídicas e de defesa dos direitos humanos para que condenem este crime e denunciem a sua repetição pela ocupação [israelita]", declarou num comunicado.
O Hamas acusou Israel de ter matado deliberadamente Hamza e Mustafa, que viajavam juntos, e considerou tratar-se de um "crime de guerra" destinado a aterrorizar os jornalistas para que deixem de fazer reportagens em Gaza.
Segundo a organização não-governamental Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 77 jornalistas foram mortos durante a cobertura da guerra, iniciada há três meses.
O CPJ registou também 16 jornalistas feridos, três desaparecidos e 21 detidos.
A guerra começou depois de o Hamas ter efetuado um ataque em solo israelita há precisamente três meses, em 07 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades.
A resposta israelita provocou um elevado nível de destruição de infraestruturas na Faixa de Gaza e uma crise humana de consequências imprevisíveis, com o Hamas a registar mais de 22.800 mortos pelos bombardeamentos de Israel.