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EUA oferecem dez milhões de dólares por informações financeiras do Hamas

O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, chegou hoje a Istambul, no contexto de um novo périplo ao Médio Oriente focado no conflito na Faixa de Gaza
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, chegou hoje a Istambul, no contexto de um novo périplo ao Médio Oriente focado no conflito na Faixa de Gaza, Foto AFP

Os Estados Unidos oferecem uma recompensa de dez milhões de dólares (9,1 milhões de euros) por informações sobre os mecanismos financeiros do movimento islamita palestiniano Hamas, que se encontra em guerra com Israel, anunciou hoje o Departamento de Estado.

Em comunicado, o Departamento de Estado norte-americano afirma que o seu Programa de Recompensas pela Justiça está a oferecer uma recompensa de até 10 milhões de dólares por informações que levem "à perturbação dos mecanismos financeiros da organização terrorista estrangeira Hamas".

O Departamento de Estado elenca uma série de nomes de financiadores e agentes da organização islamita palestiniana, que orquestrou um ataque sem precedentes no sul de Israel em 07 de outubro, deixando 1.140 mortos, segundo números oficiais de Telavive, e levando mais de 200 reféns para a Faixa de Gaza, que controla desde 2007.

Entre as várias figuras referidas na recompensa em troca de informações, a nota da diplomacia norte-americana destaca Abdelbasit Hamza Elhassan Mohamed Khair, "Hamza", apontado como um financiador do Hamas sediado no Sudão e que "administrou inúmeras empresas na carteira de investimentos" do grupo palestiniano.

"Hamza", segundo o Departamento de Estado, esteve anteriormente envolvido na transferência de quase 20 milhões de dólares (18,2 milhões de euros) para o Hamas, incluindo fundos diretamente enviados para o seu diretor financeiro e "terrorista global especialmente designado [SDGT, na sigla em inglês]" pelos Estados Unidos da América (EUA), Mahir Jawad Yunis Salah.

"A rede usada por 'Hamza' para lavar dinheiro e gerar receitas para o Hamas inclui a Al-Rowad Real Estate Development, com sede no Sudão, que o Departamento do Tesouro dos EUA designou como SDGT em maio de 2022", observa a nota, adicionando que o alegado financiador tem laços financeiros de longa data com a Al-Qaida e empresas ligadas ao seu anterior líder, Osama bin Laden, também no Sudão.

A lista inclui também vários nomes descritos como agentes da rede financeira do Hamas na Turquia, como Amer Kamal Sharif Alshawa, diretor-geral da Trend GYO e que desempenhou funções como administrador de várias empresas do portfólio de investimentos da organização, e Ahmed Sadu Jahleb, secretário da carteira de investimentos do Hamas e coordenador das atividades de empresas controladas pelo movimento islamita palestiniano.

A lista integra ainda Walid Mohammed Mustafa Jadallah, igualmente referido como administrador em diversas empresas onde o Hamas mantém interesses, e Muhammad Ahmad Abd Al-Dayim Nasrallah, "um antigo agente do Hamas com laços estreitos com entidades iranianas", que esteve também envolvido na transferência de dezenas de milhões de dólares para a organização, incluindo para o seu braço militar, as Brigadas al-Qassam.

Todos estes indivíduos estão designados como SDGT desde 18 de outubro de 2023, nove dias depois do ataque no sul de Israel, enquanto o Hamas é considerado pelos EUA, à semelhança do que fez a União Europeia (UE), como uma organização terrorista estrangeira desde outubro de 1997 e como entidade SDGT desde outubro de 2001.

Em concreto, o Departamento de Estado procura informações que levem "à identificação e interrupção" de qualquer fonte de receitas para o Hamas ou para os seus principais mecanismos de financiamento, dos seus principais doadores ou financiadores e de instituições financeiras ou casas de câmbio que facilitam as transações para o grupo palestiniano.

É ainda oferecida uma recompensa por informações sobre negócios ou investimentos pertencentes ou controlados pelo Hamas ou pelos seus financiadores, empresas de fachada envolvidas em aquisições internacionais de tecnologia de dupla utilização em nome do grupo e esquemas criminosos envolvendo os seus membros e apoiantes que beneficiem financeiramente a organização.

Segundo o Departamento de Estado, desde a sua criação em 1984, o Programa de Recompensas pela Justiça pagou mais de 250 milhões de dólares (228 milhões de euros) "a mais de 125 pessoas em todo o mundo que forneceram informações práticas que ajudaram a resolver ameaças à segurança nacional dos Estados Unidos".

O anúncio da recompensa coincide com o início de uma visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ao Médio Oriente, entre receios de que um agravamento da guerra entre Israel e o Hamas conduza a um conflito regional.

Esta será a sua quarta visita à região e a quinta a Israel, excluindo a que foi realizada em outubro com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desde que o Hamas realizou o seu ataque em 07 de outubro em solo israelita.

Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento palestiniano, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 22.000 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes -- e feridas acima de 57 mil, também maioritariamente civis.

O conflito provocou também cerca de dois milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.