O Museu de Arte Sacra do Funchal (MASF) abre ao público, este sábado, um novo núcleo expositivo situado na Torre do edifício do Museu, fruto da doação da colecção particular de D. Teodoro de Faria à Diocese do Funchal.

Nesta exposição, conforme explica a nota à imprensa, “colocam-se em evidência alguns dos aspectos histórico-artísticos dos ícones que, enquanto imagens sagradas, são símbolos da revelação do invisível, revestidas de profunda espiritualidade, sentido poético e litúrgico, que apelam à experiência da contemplação”.

O estudo, inventariação e divulgação desta colecção foi encetado em 2018, com a exposição temporária ICONE: Beleza e Mistério, realizada no MASF a propósito do Dia Nacional dos Bens Culturais.

Uma exposição em dois núcleos

A exposição apresenta cerca de 50 ícones de um total de cerca de 100 obras, organizados em dois principais núcleos. Todo o conjunto de obras expostas é datável entre o século XVIII e XX e segue a tradição figurativa e temática dos ícones orientais que, a partir de Bizâncio, se difundiu para outras latitudes – Grécia, Creta, oriente próximo, norte de África, Egipto e mundo eslavo – chegando à Rússia no século X onde, com o empenho inicial do Rei Vladimir, se fixou até aos dias de hoje.

A exposição teve curadoria de Martinho Mendes (CEHA-AV) e contou com a colaboração científica da investigadora e iconógrafa Irina Curto.

1.º Núcleo: Como se faz um ícone?

O primeiro núcleo da exposição procura mostrar como a ordem de construção de um ícone é simultaneamente um exercício técnico, enraizado numa repetição tradicional e milenar de regras e processos de composição codificados, e espiritual, pois o acto de pintar uma imagem sagrada é, em si, uma prática religiosa que envolve preparação espiritual do pintor ou iconógrafo que, através das formas e cores, proclama e transmite os Mistérios revelados por Deus aos homens.

2.º Núcleo:  Iconografias de cristo, de nossa senhora e dos santos

Este principal núcleo, subdivide-se em três grupos compreendendo a Iconografia associada à Virgem Maria; Cristo; Santos e Menológios, respectivamente.

O primeiro grupo apresenta a iconografia de Nossa Senhora que se insere dentro dos cinco subgrupos que compreendem as diferentes representações da Virgem, feitas ao longos dos séculos, a partir de um primeiro retrato da mãe de Deus que, segundo a lenda, foi feito pelo Evangelista São Lucas. Com efeito, pode-se encontrar representações da Virgem: Hodegitria – Aquela que mostra o caminho –; Orante – que ergue as mãos para o céu, em oração; Eleousa – Virgem da Ternura; Panachranta – Virgem entronizada com o filho ao colo; e Aglosoritissa – A mãe de Deus com o rolo da lei. Acresce ainda representação da vida da Virgem.

O segundo grupo mostra algumas das representações iconográficas mais conhecidas de Cristo, nomeadamente a Santa Face (Mandylion), o Cristo Pantocrator, a Intercessão (Deesis), entre outras que se reportam à infância – Nascimento de Jesus, Apresentação de Jesus no Templo – e vida adulta de Jesus – Baptismo de Jesus, Entrada de Cristo em Jerusalém, Jesus Expulsando os vendilhões, Crucificação, Ressurreição.

No terceiro grupo, apresentam-se imagens dos santos, dias de festa e menológios, englobando assim duas tipologias de ícones.

O primeiro grupo é referente às Imagens dos Santos, com representação de alguns dos principais nomes venerados no mundo da ortodoxia, nomeadamente os Profetas do antigo Testamento, São João Baptista, os quatro Evangelistas, os Apóstolos e alguns taumaturgos como São Nicolau ou São Mitrofan de Voronez.

O segundo grupo mostra alguns ícones que se reportam às doze principais festas no mundo ortodoxo, em que oito se dedicam a Cristo e quatro à Virgem Maria. Os menológios referem-se ao calendário onde se assinalam as festas dos santos notáveis pelas suas vidas exemplares.

Este Núcleo fica aberto ao público a partir do dia 8 de Janeiro, tendo as entradas para madeirenses um desconto de 50%, permitindo, ainda, uma visita a todo o Museu e uma vista deslumbrante sobre a cidade.

Programa educativo e cultural

Explica ainda o Museu de Arte Sacra do Funchal que, à volta deste Núcleo, serão organizadas visitas guiadas temáticas destinadas aos variados públicos, nomeadamente os grupos escolares e de catequese. Serão promovidas conversas e ateliês de pintura que introduzem as técnicas de pintura sobre madeira, não apenas a têmpera, mais associada à exposição temporária, como também a pintura a óleo existente nas colecções de longa duração do espaço museológico.