China e Árabia Saudita lideram gastos em propriedades de Trump durante o seu mandato
A China e a Arábia Saudita foram os países com maiores gastos em propriedades do ex-Presidente norte-americano Donald Trump durante o seu mandato, segundo um relatório dos democratas no Congresso hoje divulgado pelo jornal Wall Street Journal (WSJ).
De acordo com o relatório, elaborado a partir de documentos públicos e registos financeiros obtidos pelos democratas no Comité de Supervisão da Câmara dos Representes, a China e a Arábia Saudita, através dos respetivos governos ou entidades relacionadas, estão à frente de uma lista de 20 países que gastaram milhões de dólares em hotéis em Washington e Las Vegas e propriedades em Nova Iorque de Donald Trump quando era Presidente dos Estados Unidos (2017-2021).
Só o Governo chinês e entidades associadas efetuaram despesas de 5,5 milhões de dólares (cinco milhões de euros), nove vezes mais do que a Arábia Saudita, o segundo maior gastador, indicam os números do relatório dos democratas, que avisam que os pagamentos estrangeiros identificados são "provavelmente apenas uma pequena porção" do verdadeiro total devido a insuficiência de informação.
Com um total de um milhão de dólares (900 mil euros), os governos do Qatar, Kuwait e Índia completaram a lista dos cinco maiores gastadores, concluiu o documento.
Através de registos da Comissão de Valores Mobiliários, o documento identifica gastos do Banco Industrial e Comercial da China, detido pelo Estado, acima de cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros) em alugueres de propriedades de Trump quando estava na Casa Branca
Instado pelo WSJ a comentar estas despesas, um porta-voz da Embaixada da China em Washington limitou-se a dizer que o Governo de Pequim "exige que as empresas chinesas operem no exterior de acordo com as leis e regulamentos locais".
"O relatório, apoiado em documentos fornecidos aos investigadores da Câmara pela empresa de contabilidade Mazars USA, oferece uma imagem mais completa de como as empresas de Trump beneficiaram durante a sua presidência, uma vez que autoridades estrangeiras podem ter tentado obter os seus favores", aponta o WSJ, acrescentando que os democratas vão levantar estas questões novamente se o político republicano for eleito para outro mandato em novembro.
O jornal refere igualmente que a minoria democrata divulgou as suas conclusões enquanto os republicanos na Câmara conduzem um inquérito de 'impeachment' ao atual Presidente, Joe Biden, focado nos benefícios que poderá ter retirado dos negócios do seu filho Hunter e de outros membros da família, que rejeita as acusações.
A minoria democrata acusa os republicanos de hipocrisia, atendendo aos "extensos esforços comerciais estrangeiros de Trump", que podem ter estado na origem de decisões tomadas durante o seu mandato, e a anos de litígio relacionados com potenciais conflitos com a cláusula consagrada na Constituição que impede os titulares de cargos públicos de aceitarem ofertas de Estados estrangeiros sem a permissão do Congresso.
O WSJ destaca, nas centenas de páginas de despesas consultadas, pelo menos 210 mil dólares (191 mil euros) em despesas imobiliárias e de hospedagem pela Arábia Saudita em 2018, "o mesmo ano em que Trump duvidou publicamente das avaliações dos serviços de informações norte-americanos de que o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman ordenou o assassínio e desmembramento do colunista do Washington Post Jamal Khashoggi".
Ao todo, a Arábia Saudita gastou pelo menos 615 mil dólares (561 mil euros) em propriedades de Trump durante a sua presidência.
Os documentos mostram também que a Malásia pagou uma suite de 10 mil dólares (9,1 mil euros) por noite no hotel de Trump em Washington, em setembro de 2017, para o então primeiro-ministro Najib Razak, "enquanto este estava sob investigação nos Estados Unidos pelo seu papel num escândalo de corrupção multimilionário que acabou por ajudar a derrubar o seu governo".
Segundo o relatório, os gastos da Malásia levaram a um aumento de 70% da receita média por noite naquele hotel, o mesmo onde uma delegação saudita pagara uns meses antes dois mil dólares (1.800 euros) por um centro de mesa de flores e torres de biscoitos.
Um porta-voz da campanha presidencial de Trump não respondeu às perguntas do jornal, bem como as embaixadas da Arábia Saudita e da Malásia e a empresa Mazars USA.
Apesar de não deixar claro se as despesas nas propriedades de Trump afetaram as políticas da sua administração, os autores do relatório - resultante de um acordo em 2022 mas que carece de informação após a interrupção do fluxo de dados da Mazars no seguimento da perda do controlo dos democratas da Câmara e da liderança do Comité de Supervisão -- alertam que os benefícios previstos na Constituição aplicam-se a qualquer transação comercial, "através da qual um governo estrangeiro possa subtilmente obter favores e cair nas boas graças" do executivo norte-americano.
Os democratas também sustentam que a capacidade das empresas familiares do ex-Presidente dos Estados Unidos de garantir marcas registadas na China "melhorou acentuada e rapidamente após Trump assumir o cargo", alegando que não divulgou indevidamente muitas delas durante sua presidência.
Segundo o WSJ, além dos deputados do Congresso, os potenciais conflitos de interesses de Trump também atraíram os procuradores-gerais de Maryland e do Distrito de Colúmbia, que moveram uma ação judicial alegando que o hotel do ex-líder da Casa Branca em Washington desfrutava de uma vantagem injusta sobre os concorrentes, argumentando que entidades governamentais estrangeiras procuravam as suas propriedades "para cair nas boas graças da nova administração".
O Tribunal Supremo acabou por encerrar o caso dias após a posse de Joe Biden em 2021, sustentando que Trump deixara de ser presidente.