Grupo Estado Islâmico reivindica atentado que causou 84 mortos no Irão
O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou hoje o atentado de quarta-feira em Kerman, no sul do Irão, que causou 84 mortes, durante uma homenagem ao general Qasem Soleimani, morto pelos Estados Unidos em 2020.
Segundo os dados oficiais, a dupla explosão então registada provocou também 284 feridos, alguns deles em estado grave, pelo que o total de vítimas mortais pode vir a aumentar.
Num comunicado divulgado através dos seus canais na rede social Telegram, o EI referiu que dois dos seus membros "dirigiram-se para uma grande concentração" de pessoas junto do túmulo de Soleimani em Kerman e "fizeram detonar os cintos com explosivos".
O Estado Islâmico identificou os dois bombistas como Omar al-Mowhid e Saifallah al-Mujaahid, que realizaram o atentado para que provocou ainda 284 feridos, 220 dos quais permanecem hospitalizados, segundo as autoridades iranianas, que tinham anteriormente afirmado que os ataques eram "suicidas".
O ataque terrorista ocorreu no momento em que milhares de pessoas participavam em cerimónias para comemorar a morte de Soleimani, assassinado em Bagdade em 2020 por ordem do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O ataque teve como alvo uma multidão reunida numa cerimónia comemorativa perto da mesquita Saheb al-Zaman, que alberga o túmulo do general Soleimani, o "arquiteto" das operações militares iranianas no Médio Oriente, morto em janeiro de 2020 por um ataque norte-americano no Iraque e que é celebrado no seu país pelo seu papel na derrota do grupo Estado Islâmico no Iraque e na Síria.
A primeira explosão ocorreu por volta das 14:45 locais, a cerca de 700 metros do túmulo do general iraniano, e a segunda 15 minutos mais tarde.
O líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, tinha anteriormente prometido uma "resposta severa" aos "inimigos diabólicos e criminosos da nação iraniana" que levaram a cabo o ataque.
Por seu lado, o chefe da força Qods, o ramo de operações externas do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica, general Esmail Qaani, tinha sugerido, antes da reivindicação do EI, que os autores do atentado tinham sido "abastecidos pelos Estados Unidos e pelo regime sionista".
O antigo presidente da Comissão Parlamentar de Segurança Nacional iraniana, Heshmatollah Falahatpisheh, defendeu que os atentados "não teriam sido possíveis sem" os serviços secretos norte-americanos e israelitas.
O Departamento de Estado em Washington considerou "absurda" qualquer sugestão de envolvimento dos Estados Unidos ou de Israel, cujo governo não comentou o atentado.
Para Ali Vaez, investigador especializado em Irão no International Crisis Group, a dupla explosão "corresponde ao modus operandi" do EI.
O atentado "não tem as características das anteriores operações secretas israelitas no Irão", observou na rede social X (ex-Twitter), referindo-se aos assassínios de funcionários nucleares atribuídos a Israel.
Se o ataque tivesse sido perpetrado por Israel, considerou Vaez, "faria parte de uma campanha de provocação máxima", especialmente após o recente ataque israelita contra o 'número dois' do Hamas em Beirute e a eliminação, perto de Damasco, de um alto comandante dos Guardas da Revolução.
O atentado foi o mais mortífero no Irão desde 1978, quando um fogo posto matou pelo menos 377 pessoas num cinema em Abadan, segundo os arquivos da AFP.
Perante um dos atentados mais brutais das últimas décadas no Irão, as autoridades da República Islâmica garantiram que os "autores" do ataque serão detidos pelas forças de segurança e serviços secretos e que os seus apoiantes "temerão a ira da nação iraniana".
O Estado Islâmico reivindicou a autoria de vários atentados em solo iraniano no passado, sendo o mais recente, antes do atentado de Kerman, um ataque a um mausoléu na cidade meridional de Shiraz, no qual morreram 15 pessoas em outubro de 2022.