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Relâmpagos

Quinta-feira, 28 de dezembro. Por Lisboa e por iniciativa do Plano Nacional de Leitura, os livros são “largados” em vários cantos da cidade para que as pessoas os encontrem. Entre nós, infelizmente, tropeçamos na falta de livros!

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Quarta-feira, fim do dia 27 de dezembro, foi de homenagear o processo literário de Nuno Júdice, na Livraria SNOB, esteta que continua a iluminar-nos com o melhor da horaciana Ars Poetica. Nos cinco minutos que me couberam, li dele a tradução do poema “Confissão”. E o final do “Konfison”, saiu-me assim:

(...)

Ma n ta leba ku mi tudu

kel ki n ta rakuza. N ta xinti

ta kola-m na kosta

un restu-l noti;

i n ka sabi boita pa frenti, undi ta

manxi.

(.../)

Louvo Nuno Júdice, como louvaria todos os “poetas que são meus”, pelos procedimentos literários, temáticos, sintáticos e gramaticais de assaz grandeza, nos alinhamentos aos versos do poeta Osvaldo Alcântara (louvando eu) “porque sou caçador de heranças/ e queria confessar a minha gratidão”.

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Sábado, 30 de dezembro. O existencialismo (solitário) de poetar. Exercício (alquímico, só pode) de destilar tempos, lugares, personagens, peregrinações, paradoxos, resíduos, fragrâncias, fragmentos, poeiras... extraindo de tudo, inclusive da pedra, algum leite. Um Ano que finda, outro Ano que começa; findar um e iniciar outro (em Roma/ Amor), no anagrama de quem leu Nietzsche em “Quando você olha dentro do abismo,/ O abismo olha dentro de você”; e ciente que nobre e árdua a arte poética, se contraponto aos falsos profetas e seus novos altares. Satã, Leviatã, Império, imanentes deuses das nossas esquinas - a vez não seja mais vossa. O poetar peso e leveza, cheio e vazio, luz e sombra - existencialmente!

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Nem sei como deverei escrever estes Relâmpagos. Será com uns versos de Haideia Avelino Pires? Será com outros diálogos e intertextos?

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Este fim-do-ano, não fossem as guerras, o vilipêndio humano e demais tormentos, haveria de ser um restauro de alentos. De permeio, o amor, que não se julgue esquecido, ao ser medido pela poesia. Vinícius de Moraes dele suspirou, que infinito, enquanto dure. Haja poesia como o pão nosso de cada dia.

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Neste tempo, espelhos e contra-espelhos que não farão, ao menos por ora, nossos caminhos. Sigamos, Divina Corsa, o Maktub, para significar-te o que “já estava poeticamente escrito”, em contraponto às alegorias elípticas do fim da República.

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Hoje, a trabalhar o dia todo num livro que é de feitura complexa e que não se reescreve de corrida. Pausa para comentar o seu recorte da política externa, truísmo de ser útil sem ser moço de fretes. Colocar a Soberania no centro da questão, desafio maior, ampliaria o nosso estatuto e papel para além do que se espera de nós.

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Para além da vidinha miúda e da maledicência crioula, às vezes de medonho atavismo, há sim hipóteses de grandeza e morabeza, de vidas sem maiores acasos e de ocasos eternos ao desamparinho. Para além disso, à malvadeza mecânica da metafórica grua, a invenção do amor e das roldanas sem tragédia...

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Ao revés de tudo e o Ano Novo a vir, eis a questão: que poema de amor seja o pão nosso de cada dia?