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Histórias nobres de pessoas simples

“Quando eu era criança comi muitos figos na Soca de figueiras que os nossos antepassados plantaram”

Todos temos o dever de produzir algo para as gerações futuras, tal como os nossos antepassados fizeram para nós.

A varredora

Uma familiar minha emigrante, regressada da Venezuela, circulava de carro no Funchal, por altura do Natal, quando, na avenida Zarco, próximo ao edifício dos CTT, o veículo teve que parar devido ao sinal de trânsito. Por coincidência, no passeio, próximo da janela do veículo, encontrava-se uma funcionária da Câmara a varrer a rua. Como o vidro do veículo estava aberto, a varredora olhou para a condutora, sorriu e com delicadeza desejou Bom Natal e Bom Ano!

A emigrante retribuiu o cumprimento, ficou muito feliz e, simultaneamente, surpreendida e sensibilizada com o gesto simpático da varredora. Pois, não a conhecia e nunca tinha recebido umas felicitações tão genuínas e puras de uma pessoa desconhecida. Este pequeno gesto da varredora mostra que, na verdade, é um exemplo de pessoa com espírito nobre de cidadania.

A figueira do velho Salvador *

Um médico foi chamado ao sítio da Vigia, Campanário, para certificar um óbito. Ao subir o caminho, o médico ficou surpreendido ao ver o velho Salvador, que vivia sozinho, a plantar uma figueira num terreno em frente à sua casa.

- Para que se dá ao trabalho de plantar uma figueira? – Perguntou o médico ao agricultor - Certamente, outros é que irão comer os figos no futuro! - Comentou o médico.

Respondeu o Salvador: - Quando eu era criança comi muitos figos na Soca de figueiras que os nossos antepassados plantaram. E acrescentou: - Por isso, sinto o dever de plantar, também, mesmo que sejam outros a comer os figos.

O velho Salvador, entretanto, morreu. A figueira atualmente não dá figos porque, alguns anos depois, foi aberta a Estrada da Amoreira, que atravessou o terreno do Salvador e destruiu a árvore.

A figueira não permaneceu, mas sobreviveu a lição do velho agricultor: todos temos o dever de produzir algo para as gerações futuras, tal como os nossos antepassados fizeram para nós.

* Adaptado de uma passagem do livro Caminho da Vigia, Ed O Liberal, 2011