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Fact Check Madeira

É possível ocorrer chuva torrencial num local e a pouca distância não cair ‘pingo’?

Ao princípio da noite de domingo demos a notícia ‘Chuva torrencial na costa Oeste’. A novidade, para muitos, motivou reacções de incredulidade: “Até custa acreditar! No Funchal não se passa nada”, reagiu um internauta.

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A possibilidade de ocorrer precipitação constava na previsão geral do estado do tempo do último domingo para o Arquipélago da Madeira, emitido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Durante quase todo o dia predominou o tempo quente e seco de lés-a-lés, sem sinais de sequer ameaçar chover.

Acontece que ao final da tarde, na parte Oeste da ilha da Madeira, houve súbita mudança no estado do tempo, que culminou com episódio de chuva torrencial a fustigar o Concelho da Calheta, ‘respingando’ ainda para os concelhos vizinhos, nomeadamente Ponta do Sol e Porto Moniz. A partir daqui a chuva registada na rede de estações meteorológicas do IPMA mais próximas foi residual, sendo que nem houve registo de ‘pingo’ nas estações localizadas nos concelhos de Câmara de Lobos, Funchal, Santa Cruz e Machico, onde imperou o céu descoberto.

Não estranha por isso que quando surgiram informações da ocorrência de muita chuva a Oeste, nomeadamente nos Prazeres e na Ponta do Pargo, que em menos de uma hora registaram quantidades de precipitação que já haviam ultrapassado largamente os limites para aviso amarelo e ameaçavam ‘transbordar’ para valores de aviso vermelho, muitos – os que se encontravam nos concelhos mais populosos da Região – ficaram incrédulos. Os mais descrentes duvidaram mesmo da veracidade das notícias que davam conta de chuva torrencial a Oeste.

“Até custa acreditar! No Funchal não se passa nada”, reagiu na noite de domingo um internauta à publicação do DIÁRIO. Um comentário recorrente sempre que a previsão geral do tempo não corresponde ao tempo que se faz sentir num qualquer local. De facto, no domingo, durante e após a forte chuvada registada na costa Oeste, acompanhada de muitos relâmpagos, no Funchal o céu predominou estrelado, chegando apenas os clarões da trovoada que acompanhou o repentino episódio de chuva.

Um episódio, mais um, que prova não só a complexidade que está associada à previsão meteorológica, mas também a ideia errada que muitas vezes temos sobre o estado do tempo, julgando o local pelo todo.

Segundo os entendidos, o que ocorreu este domingo a Oeste da ilha da Madeira, com particular incidência nas freguesias dos Prazeres e Ponta do Pargo – tendo por base a localização da rede do IPMA na Região – resultou de um inesperado desenvolvimento de uma potente célula, situação que nenhum dos modelos meteorológicos de referência conseguiu prever. O resultado foi chuva intensa num curto intervalo de tempo. A quantidade foi tanta que configurou situação meteorológica de risco extremo (aviso vermelho). Tal verificou-se nos Prazeres, que na hora de maior precipitação registou valor de 44,8 litros por metro quadrado (mm). Esta estação registou ainda extremos de 16,4 mm/10 min, e de 32,2 mm/30 min.

Na Ponta do Pargo, destaque para os 18,3 mm registados nos 10 minutos de chuva mais intensa.

Nos concelhos vizinhos, os registos extremos foram substancialmente inferiores: Ponta do Sol/Lugar de Baixo (3,3 mm/10 min; 8,1 mm/30 min; 8,1 mm/1h); Porto Moniz (3,3 mm/10 min; 6,3 mm/30 min; 7,2 mm/1h).

O inesperado evento levou o IPMA a emitir, nessa noite, aviso amarelo para a precipitação. 

O episódio ocorrido este domingo no Concelho da Calheta é comparável ao ocorrido no Natal de 2020 em São Vicente, com grande impacto nas freguesias de Ponta Delgada e Boaventura, e em Santana, no final do mês de Janeiro de 2022.

Mesmo com o significativo avanço tecnológico como ferramenta fundamental de apoio à meteorologia, além de complexos os fenómenos meteorológicos são muitas vezes imprevisíveis. Foi o que aconteceu este domingo apenas e só na costa Oeste da Madeira. Se tal tivesse ocorrido no Funchal, muito provavelmente teria tido impacto mais gravoso.

‘Sem pingo’ em grande parte da Região, é de acreditar que possa ter chovido torrencialmente nalguma localidade?