Arcebispo pede a portugueses para manterem fé e esperança no futuro da Venezuela
O arcebispo de Caracas, monsenhor Baltazar Porras, apelou à comunidade luso-venezuelana para, apesar da crise política, económica e social local, manter a fé, a esperança no futuro do país e trabalhar pela paz na Venezuela.
"Sem fé, humana e religiosa, é impossível fazer qualquer coisa. Mais da metade das coisas que fazemos é porque temos fé. Têm fé nos vossos filhos, mulheres, no vosso trabalho, na esperança de transformação em todos os aspetos da vida"-, disse à Lusa, à margem da Festa das Fogaceiras, em Caracas.
"A fé é o verdadeiro motor da esperança, sem fé não somos nada, estamos vazios de tudo. E, precisamos de Deus, que enche o nosso coração e nos faz sair de nós próprios", acrescentou.
Para o arcebispo, tudo o que está a acontecer na Venezuela "tem de chamar a atenção", e defendeu que é preciso "trabalhar pela paz, porque tudo o que se faz com violência, com manipulação, com desprezo pelo outro, não leva ao bem-estar material e espiritual de uma sociedade".
Apesar da crise, não se pode deixar "amargar o coração" e achar que quem é diferente "é um inimigo a eliminar".
"Não! Somos todos irmãos com as diferenças que possamos ter, temos de procurar um caminho comum, que é o bem da maioria, dos mais pobres, dos mais necessitados", sublinhou.
"Que isso nos faça avançar pacificamente, defendendo os verdadeiros princípios da convivência humana e cristã para aquilo que desejamos na sociedade, essa paz, serenidade (...) Só o que é movido pelo afeto produz frutos de bem", disse.
Durante a cerimónia, o embaixador português em Caracas, João Pedro Fins do Lago, agradeceu "o empenho e o sucesso em trazer [as tradições de] Portugal para a Venezuela".
A Festa das Fogaceiras, "remonta há mais de cinco séculos, honra um santo e mártir venerado desde os primeiros séculos pela Igreja Católica", explicou.
"De acordo com a tradição, São Sebastião ter-se-á tornado soldado para proteger os cristãos, então perseguidos pelo Império Romano. Ora, esta atitude de fazer o que for necessário para proteger quem mais necessita é um exemplo que me orgulho de ver seguido pelos portugueses na Venezuela", disse.
No entanto, o diplomata explicou que "solidariedade, não é palavra vã para os portugueses na Venezuela" que crescem em "exemplo de sucesso e integração".
O diplomata chamou a atenção que pela enorme dimensão da comunidade, há também "compatriotas que se encontram nas franjas sociais mais carecidas e que por isso merecem toda a atenção e apoio".
"Solidariedade, não é igual a generosidade, porque não é apenas dar. É sacrificar algo de nós ou algo nosso em favor de quem precisa. É esse precisamente o exemplo de São Sebastião, e é também esse o exemplo que os portugueses na Venezuela dão", disse.
A nova presidente da Associação Civil Amigos de Terras de Santa Maria da Feira, Mónica Reis, indicou que a organização está a celebrar o 25.º aniversário.
"E hoje, mais uma vez, foi renovado em Caracas o voto feito pelo povo de Santa Maria da Feira e os condes da Feira, quando dolorosamente, castigados por uma peste, recorreram fervorosamente ao mártir de São Sebastião, sentindo-se com a sua extensão devedores de uma miraculosa proteção", disse.
As celebrações anteriores contaram com um contributo da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o que este ano não se materializou, colocando à prova a capacidade da comunidade para "organizar um evento do nada", acrescentou.
A responsável explicou que receberam contributos de todas as empresas a que tocaram à porta e precisou que nas festividades participaram 400 portugueses que "dia a dia levam no peito o orgulho pelas tradições do país natal".