DNOTICIAS.PT
Explicador Madeira

Poeiras na atmosfera, origem e impacto

Transporte de partículas e poeiras naturais tem origem em regiões áridas dos desertos do Norte de África. A excessiva concentração pode revelar-se perigosa para a saúde humana.

None

É do conhecimento geral que esta bruma que nos últimos dias voltou a pairar sobre a Madeira é provocada por poeiras oriundas do continente africano e quando tal se verifica, a temperatura do ar é normalmente alta. Além de afectar a visibilidade, o ar que deixa o céu esquisito tende a ficar ‘irrespirável’, e se ocorrer precipitação, o resultado será ‘chuva de lama’.

Ocasionalmente observa-se na atmosfera a presença de partículas e poeiras em suspensão, identificáveis pela tonalidade amarelada ou esbranquiçada do céu, que podem estar associadas quer a tempo seco, quer à ocorrência de ‘chuva de lamas’ e que deixam as superfícies expostas ao ar, cobertas de poeiras. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), “estes dois tipos de eventos naturais têm a mesma génese, constituem massas de ar que são formadas sobre grandes regiões secas e áridas, como os desertos do Sahara e Sahel, e que transportadas pela circulação atmosférica, podem alcançar regiões distantes”. 

A APA esclarece que “quando este fenómeno ocorre sobre a forma de ‘chuva de lamas’ o transporte da massa de ar está associado a um sistema depressionário, com ocorrência de precipitação. Nesta situação, as poeiras coalescem com as gotículas de chuva, dando origem a precipitação com poeiras agregadas. Geralmente, este fenómeno não tem impacto na qualidade do ar pois funciona como mecanismo de remoção de poluentes (washout atmosférico) ”. 

Na situação oposta, quando o mecanismo de transporte destas massas de ar está associado a circulações como fluxos de corrente de sudeste, ou mesmo recirculações regionais, sem ocorrência de precipitação, a presença destas massas de ar sobre uma região poderá ter impacto na qualidade do ar que respiramos. Chama a atenção que “o impacto depende da intensidade do fenómeno e da quantidade de material particulado que atinge os níveis de superfície”. Deste modo, a monitorização diária destes fenómenos é importante para identificar a contribuição de poluentes naturais na qualidade do ar que respiramos.

Na Região, a ocorrência de intrusão de massa de ar contendo estas partículas e poeiras em suspensão na atmosfera, com  possibilidade de afectar a qualidade do ar, é monitorizada pela Direcção Regional de Ambiente e Alterações Climáticas (DRAAC) através das estações da Rede de Qualidade do Ar, instaladas no Funchal e em Santana.

A excessiva concentração destas partículas naturais com origem em regiões áridas de África são perigosas para a saúde humana devido a ser facilmente inaladas e acumularem-se nos pulmões.

Manuel Ara de Oliveira, da DRAAC, explicou recentemente ao DIÁRIO o significado do limite diário em relação às PM10, tendo em conta a existência de dois limites: limite diário e limite anual. Esclareceu então que o limite diário pode ser visto como “a ‘quantidade/dose diária de PM10’ que o nosso corpo deve inalar tendo em vista a Protecção da Saúde Humana”. Fez saber que a legislação prevê que o limite diário (50 ug/m3) possa ser ultrapassado 35 dias num ano. Informou ainda que este poluente (PM10) possui também um limite anual (40 ug/m3), ou seja, “a ‘quantidade/dose anual de PM10’ que o nosso corpo deve inalar tendo em vista a Protecção da Saúde Humana”. Ressalva que estes limites são devidos ao facto deste poluente se acumular nos nossos pulmões, causando efeitos na Saúde Humana. Assim sendo, a excessiva concentração destas partículas em suspensão só se torna problemática caso ocorra em excesso mais de 35 dias num ano. Daí a importância da monitorização destes eventos para permitir às instituições públicas a possibilidade de informar previamente a população da previsão dos mesmos, podendo os dados dessa avaliação ser acompanhados pelo QualAr, da Agência Portuguesa do Ambiente e respectivos cuidados a ter, definidos pela Direcção Regional de Saúde.

Eis os cuidados a ter, em especial no caso das pessoas com doenças respiratórias crónicas: manter as portas e janelas dos edifícios fechadas; evitar sair nas horas de maior calor; evitar a realização de exercício físico em espaços exteriores; se permanecer no exterior a trabalhar, usar equipamento de protecção (máscara); reforçar a hidratação, com a ingestão frequente de água; cumprir com a medicação prescrita, inclusive a de alívio rápido, se necessário; se o agravamento dos sintomas persistir, procurar aconselhamento no seu Centro de Saúde.

Saiba também que as tempestades de areia e poeira resultam de intensos gradientes de pressão os quais, por sua vez, são responsáveis por vento forte; o vento forte, persistindo sobre extensas zonas áridas ou semiáridas e montanhosas, levanta para a atmosfera grandes quantidades de areia e poeira a partir de solos nus e secos, transportando-os a centenas a milhares de quilómetros de distância.
Segundo a WMO – Organização Meteorológica Mundial, anualmente cerca de 2.000 milhões de toneladas de poeira entram na atmosfera. Ainda e, de acordo com esta agência das nações Unidas, embora seja este um processo natural, ele poderá ser intensificado pela aridez dos solos resultante da má gestão da água e da terra

Conhecendo-se o efeito destas partículas na saúde humana, especialmente do foro respiratório, e ainda outros de natureza económica como a fluidez do tráfego aéreo, reconhece-se a importância dos sistemas internacionais de monitorização destes eventos.

As tempestades de areia no deserto do Sahara são relativamente frequentes e os ventos por vezes transportam as suas poeiras para bem longe. Por vezes, os ventos alísios, associados à circulação de leste do Anticiclone Subtropical do Atlântico Norte (vulgo Anticiclone dos Açores), favorecem o transporte dessas poeiras ao longo de grandes distâncias, atravessando o oceano Atlântico, até o continente americano.