E depois do adeus?
Se há quem queira ver a região a arder, outros têm agora que assumir Novos desafios
A música que viria a ser a 1.ª senha da Revolução de Abril tocou na rádio por estes dias. Bem antes de meia Madeira entrar em pânico com uma investigação judicial sem precedentes e a outra metade se revelar empenhada em resgatar a sociedade menos avisada da desinformação reinante. A estes juntou-se um bando de oportunistas que agora se colam ao que nunca fizeram, apenas para manifestar regozijo com a concretização daquilo que alegadamente sempre reclamaram sem nunca provar, nem ler, dada a surpresa patenteada e a ignorância expressa em comentários e posts difamatórios. Faz mais sentido ouvir a canção depois de ser notícia que Miguel Albuquerque sai de cena no Governo e que Pedro Calado renuncia ao cargo como presidente da Câmara Municipal do Funchal. Depois do adeus de ambos, e por razões estratégicas de defesa pessoal, uma vez implicados num processo sem nome e que envolve ainda Avelino Farinha e Custódio Correia, opção determinada pelo julgamento público com base nas suspeitas de corrupção abundantemente mediatizadas, as mesmas que motivaram importantes buscas, mas também humilhações dispensáveis, expedientes aparatosos e sem concurso público e até bullying dos seus mais indefesos familiares e amigos, importa perceber quais os propósitos de quem se segue na liderança da alegada “estabilidade” ou nos destinos de uma Região em que até agora o PSD sempre mandou. Mesmo que haja quem queira ver a Madeira a arder, todos devem sentir-se convocados para fazer diferente e melhor, se é que focados no futuro colectivo com novo formato - se é que existe!- imune aos riscos da incontornável proximidade, aos alegados “pactos corruptivos”, aos favores, às chantagens e às cunhas, mas também à inveja, à mesquinhez e à subserviência.
Depois deste adeus convém analisar a robustez da Autonomia. Por estes dias mostrou-se frágil, facilmente permeável e estranhamente debilitada. O processo judicial e as diversas consequências reactivaram um colonialismo doentio, mas propositado, a vários níveis, do político ao judicial, do mediático ao palpiteiro, tiques de superioridade injustificados num País em que são poucos os que escapam à devassa, vendo o nome na lama, por vezes devido a erros processuais, preconceitos e coincidências.
Depois do adeus exige-se transparência redobrada. Não basta parecer, e pelos vistos, nem publicar num contexto subversivo. O DIÁRIO partilha todos os meses, desde 2008, a contratação pública na Região ao pormenor. Nenhum nome é omitido ou disfarçado. Há quem nunca tenha dado por isso, a julgar pela forma leviana como caracteriza o jornalismo que fazemos há quase 150 anos e que tenta descredibilizar. É no que dá sobreviver das borlas e ser viciado em ‘fakes’, perfis falsos e anonimato compulsivo.
Não aceitamos por isso lições de ética, deontologia e independência de quem, sem nos conhecer, resume a propaganda um trabalho que nos orgulha. E não nos apoquenta o parágrafo do comunicado do DCIAP dando conta que a investigação incide, de igual modo, sobre “actuações que visariam condicionar/evitar a publicação de notícias prejudiciais à imagem do Governo Regional em jornais da região, em moldes que são susceptíveis de consubstanciar violação da liberdade de imprensa”. Nada confirma, pelo menos, em relação à nossa postura profissional, como provam as nossas edições. É apenas um dos pontos da investigação que carece de provas, embora a primeira seja de bradar aos céus. Lemos todos estupefactos que um dos elementos da investigação essencial para que Miguel Albuquerque fosse constituído arguido está relacionado com alegadas tentativas para controlar a comunicação social da Região só porque ficou irritado com uma reportagem de uma jornalista do JM, alegadamente posta a andar, que afinal está no activo. Tenham dó. Nem o ar nos condiciona.
Depois do adeus na ilha onde quase todos os influentes se conhecem, mas em que pelos vistos um “relacionamento privilegiado, caracterizado por uma grande proximidade e informalidade” é prova inequívoca de corrupção, importa regressar à normalidade.
Depois do adeus são dispensáveis os apetites indisfarçáveis de novos peões no xadrez político depurado pela justiça que prende para investigar, em vez de primeiro investigar para só depois prender.
Depois do adeus não há lugar para sobrancerias. Aos que aproveitam para galgar a onda e agora tentam a todo o custo eleições antecipadas, exige-se lucidez - se não for pedir muito – pois a maior investigação judicial de sempre continua em curso, os envolvidos são para já apenas suspeitos e a presunção de inocência deve ser respeitada. Aos agentes da baixa política exige-se maior dedicação pois isto de fazer tempo à espera de decisões superiores, cilindrados pela velocidade da actualidade, sem nada de útil feito em nome do povo. é prova de incapacidade gritante. Aos decisores que têm nas mãos o poder de traçar um rumo para a Região e apresentar soluções eficazes pede-se celeridade e verdade. A todos os outros que assistem com revolta ao espectáculo recomenda-se serenidade. A Justiça não pode ter investido milhares numa operação sem igual só para que houvesse julgamento sumário na praça pública, com efeitos políticos imediatos.