Este será sem dúvida um ano atípico para a política portuguesa. Às programadas eleições europeias, alguns casos sobejamente conhecidos juntaram-lhe eleições Legislativas e Regionais nos Açores e estaremos ainda por apurar o que se passará na Região Autónoma da Madeira. Espera-nos por isso um caldeirão efervescente de emoções e uma dose exagerada de campanhas, discursos inflamados, promessas e mais promessas e a incerteza do que mais estará ainda para vir e que poderá influenciar a dinâmica dos partidos e a corrida ao poder. Isto gera naturalmente uma instabilidade social enorme e uma insegurança para as pessoas que trabalham direta ou indiretamente para o Estado mas também para toda a população com a dúvida do que virá a seguir e para onde afinal caminharemos. É um país que pára quando devia estar em velocidade cruzeiro com naturais reflexos na vida de todos nós.

Neste contexto altamente imprevisível, a eleição para a Região Autónoma dos Açores e os próximos capítulos da telenovela madeirense assumem assim uma importância capital no que se irá desenrolar para a Assembleia da República. Uma vitória de José Manuel Bolieiro na primeira e a consequente capacidade de apresentar uma solução governativa estável poderá criar um elan que se pode vir a refletir na campanha nacional enquanto a reconquista de uma maioria à esquerda dará um sinal ao país de que o Partido Socialista parte como principal favorito para o que se avizinha. Também aqui, a votação de partidos como o Chega e a Iniciativa Liberal e a influência que terão na constituição dessa solução governativa pode servir de barómetro para o que nos espera nas eleições Legislativas e de que forma estarão estes partidos dispostos a eventuais acordos parlamentares.

Relativamente à Madeira não será de todo previsível que algum tipo de conclusões possam ser retiradas da recente operação do Ministério Público até ao ato eleitoral o que naturalmente deixará a dúvida e a suspeita no ar. A forma que o PSD encontrará para apresentar uma solução que permita pelo menos um ambiente de suficiente estabilidade até à aprovação do orçamento será indexada às hipóteses de vitória de Luís Montenegro. Uma coisa parece-me certa, sem um PSD robusto, tranquilizador e capaz de desenhar um clima de segurança na Madeira as hipóteses de conquista a nível nacional diminuem consideravelmente. O grande bastião laranja que tantas vezes foi o pêndulo do partido e a única considerável bandeira em alturas difíceis terá agora um papel decisivo no que se seguirá. Também será interessante de perceber que tipo de aceitação terá agora Paulo Cafôfo depois da saída da Câmara do Funchal e da presença no governo de António Costa.

Mas não serão só as Regionais a influenciar as eleições Legislativas. As redes sociais assumem cada vez mais um papel avassalador na comunicação política, sobretudo nos mais jovens. Com a decadência do Facebook, atirado agora para segundo plano e que serve para pouco mais do que registar os aniversários das pessoas conhecidas, o palco está dividido entre a rede chinesa TikTok e o Twitter de Elon Musk, o recém nomeado X. Um novo formato de chegar aos eleitores num espaço onde tudo se diz e tudo se inventa, quase sem contraditório. Um mar aberto para as fake news e para todo o tipo de campanhas, desde as mais criativas às intelectualmente mais desonestas e que como já vimos noutras paragens pode mexer de forma significativa com a opinião pública. A mim bastou-me abrir duas ou três publicações inflamadas no X para o algoritmo passar a colocar-me na montra hordas de fanáticos de um lado e do outro, a postar postas de pescada e as teorias mais sórdidas que se possam imaginar. Entre mortos e feridos veremos quem se irá salvar.