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Zandigas

Acredito que o nome João Almeida Emanuel, em especial para os mais novos, não tenha qualquer significado. No entanto, os mais velhos, provavelmente se lembrarão dele sob o nome “artístico” de Lesagi Gymmes Zandinga.

Personagem estranha cuja origem há quem diga ser a Madeira, outros, o Brasil, que se dizia teósofo, mentalista, parapsicólogo, espiritualista, psicoterapeuta, espiritualista de crenças africanas e brasileiras, “yogi”, astrólogo, acupunturista, naturopata e outras tretas do género, licenciado e doutorado por não sei quantas universidades que ninguém conhecia e que, nos fins dos anos 70 e na década de 80, teve lugar cativo na televisão e outros órgãos de comunicação portugueses.

Trabalhou com o Futebol Clube do Porto, com o Penafiel e outros clubes portugueses, para “influenciar resultados e desmoralizar os adversários” e fazia previsões de acontecimentos nacionais (desportivos e outros) na RTP e nos jornais e revistas.

Que eu me lembre, acertou por três vezes, nos milhares de previsões que fez: que iria haver um grande desastre aéreo (aconteceu o acidente, no aeroporto da Madeira, em Novembro de 1977), que o Porto, que não era campeão havia 19 anos, iria ser campeão em 1978 (depois de ter dito, uma semana antes, exactamente o contrário) e que o Marítimo (estreante na 1.ª divisão do futebol nacional) não iria descer de divisão, nesse ano, apesar de estar mal classificado até às últimas jornadas.

Evocar o “bruxo” Zandinga, vem a propósito da época eleitoral em que estamos a viver, em Portugal.

A generalidade dos políticos, se não todos, em especial em alturas de campanha eleitoral, faz promessas e previsões que não são para cumprir.

Estranho é que os eleitores (grande parte deles) querem acreditar. “Agora é que vai ser”; “este tipo/partido é o que precisamos”; “Este/estes, sim! Vão endireitar isto!”; “A vida vai melhorar!”; “Vamos ter melhor Saúde, Justiça, Educação…”. Não falo dos que defendem ideologias ou partidos, como quem segue uma religião ou é adepto de um clube de futebol (ou outro qualquer desporto). Falo dos cidadãos em geral que necessitam, desesperada e cegamente, de acreditar que é possível que tudo mude para melhor. Que a vida seja mais fácil. Que o dinheiro chegue ao fim do mês, que possam pagar a prestação do empréstimo da casa, a creche ou a escola dos filhos…

Tal como acontece com as previsões não cumpridas dos bruxos e falsos profetas, também no caso das promessas dos políticos, que não serão cumpridas, os eleitores vão esquecer, permitindo que a situação se repita vezes sem fim, com resultados idênticos. Continuarão a garantir aos políticos, de todos os partidos, que é possível prometer tudo e o seu contrário e que não serão penalizados por isso.

Num regime democrático é imperativo votar. Em consciência e tentando usar a razão em detrimento do coração. Com a certeza, fruto da experiência, de que a quase totalidade das promessas eleitorais não passará disso mesmo: promessas.