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Boa Noite

A súbita deriva

O improviso que gerou um governo assente numa base frágil e imatura rende uma ameaça de separação e duas moções de censura. Não foi por falta de aviso

Boa noite!

Chega e PS avançam com moção de censura. Cada um com a sua, embora o propósito seja comum, forçar a demissão de Miguel Albuquerque e fazer cair o governo regional.

André Ventura foi mais lesto do que Paulo Cafôfo. Compreende-se. O líder do PS-M ainda anda a meter ordem na casa. Só hoje houve quatro versões socialistas sobre o mesmo assunto. Ei-las: a porta-voz do grupo do PS na Assembleia Municipal do Funchal, Andreia Caetano pede a demissão de Calado, posição que Miguel Silva Gouveia não subscreve. Pedro Nuno Santos garante que o PS leva "presunção de inocência a sério" o que pouco importa para o presidente do PS-M.

A súbita deriva resultante da crise política aberta pela mega operação judicial em curso na Madeira e que atinge as duas principais figuras do PSD-M agudiza-se a outros níveis. Também  no próprio partido social-democrata com estratégias bem delineadas a partir do Parlamento para não deixar cair o poder na rua, na esperança que daqui a 3 anos o povo já se tenha esquecido da tormenta. Ou com apetites indisfarçáveis de novos peões no xadrez político depurado pela justiça que prende para investigar, em vez de primeiro investigar para só depois  prender.

A súbita deriva faz-se de contradições, sobretudo no PAN, que ontem dava colinho a Albuquerque e hoje lhe tira o tapete. Através de um comunicado ditado por Lisboa o partido que tem um acordo de incidência parlamentar com o PSD, viabilizando desta forma, o Governo Regional, faz saber que ou Miguel Albuquerque se demite ou rompe com o acordo firmado.

De ontem para hoje pouco ou nada mudou em termos processuais. Soube-se que há umas notas soltas que podem configurar fuga ao fisco; que na ilha onde quase todos os influentes se conhecem pelos vistos um "relacionamento privilegiado, caracterizado por uma grande proximidade e informalidade" é prova inequívoca de corrupção; e que um dos elementos da investigação judicial essencial para que Miguel Albuquerque fosse constituído arguido está relacionado com alegadas tentativas para controlar a comunicação social da Região só porque ficou irritado com uma reportagem de uma jornalista do JM alegadamente posta a andar que afinal está no activo. Tenham dó. E memória.

A 1 de Outubro último escrevi que o futuro colectivo na Região estava a ser tratado ‘às três pancadas’, tolerado por quem faz tábua rasa de propósitos, que mesmo inábeis e chantagistas, apontavam para um desfecho bem diferente da “fossadinha” em curso.

Três meses depois é o que se vê. Não foi por falta de aviso. Na altura foi escrito que no cenário improvável nascia, de barriga aberta e sem choro, um entendimento indolor de incidência parlamentar, que abrigava nas mesmas hostes PSD, CDS e PAN, que sendo necessário para que houvesse governo, assentava numa base frágil e imatura. E perguntámos se todos estariam conscientes que as traições de qualquer espécie teriam custos no quotidiano de cada eleitor e também já no próximo sufrágio.

Já na altura o PSD tinha responsabilidades acrescidas na reflexão sobre os riscos do improviso.  Hoje tem muito mais. Por estar fragilizado com tanta suspeita de gravidade extrema a atingir com pompa e circunstância o núcleo duro do partido. Por estar em negação. Por ser refém do que caminhou que traçou.