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Arábia Saudita abre a sua primeira loja de bebidas alcoólicas em mais de 70 anos

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Uma loja de bebidas alcoólicas, apenas disponível para diplomatas não-muçulmanos, foi inaugurada na Arábia Saudita pela primeira vez em mais de 70 anos, em mais um passo de abertura do reino outrora ultraconservador.

Esta loja em Riade surge num momento em que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, pretende tornar o reino um destino turístico e de negócios como parte de planos ambiciosos para afastar lentamente a sua economia do petróleo.

Um diplomata adiantou esta quarta-feira à agência Associated Press (AP), sob condição de anonimato, que a loja fica ao lado de um supermercado no bairro diplomático de Riade.

A mesma fonte descreveu o espaço como semelhante a uma loja 'duty free' de luxo de um grande aeroporto internacional.

A loja armazena bebidas alcoólicas, vinho e apenas dois tipos de cerveja por enquanto, acrescentou.

Os funcionários da loja pediram aos clientes as suas identificações diplomáticas e que colocassem os seus telemóveis dentro de bolsas enquanto estivessem no espaço.

As autoridades sauditas não responderam a um pedido de comentários sobre esta loja, de acordo com a AP.

A abertura deste estabelecimento coincide com uma reportagem publicada pelo Arab News, o principal diário saudita anglófono, sobre as novas regras para a venda de álcool a diplomatas no reino.

As regras foram descritas como destinadas a "restringir a importação descontrolada destes bens e bebidas especiais dentro das remessas diplomáticas" e entraram em vigor na segunda-feira, informou o jornal.

Durante anos, os diplomatas conseguiram importar bebidas alcoólicas para o reino através de um serviço especializado, para consumo por motivos diplomáticos.

Aqueles que não tinham acesso no passado compraram bebidas alcoólicas a contrabandistas ou prepararam as suas próprias bebidas alcoólicas dentro das suas casas, apesar dos alertas das embaixadas para os condenados por consumo de álcool, que podem enfrentar "longas penas de prisão, multas pesadas, flagelações públicas e deportação".

Beber álcool é considerado 'haram', ou proibido, no Islão. A Arábia Saudita continua a ser uma das poucas nações do mundo que proíbe o álcool, ao lado do seu vizinho Kuwait e Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos.

A Arábia Saudita proibiu o álcool desde o início dos anos 1950. O então rei Abdulaziz, monarca fundador da Arábia Saudita, interrompeu a sua venda após um incidente de 1951 em que um dos seus filhos, o príncipe Mishari, ficou embriagado e utilizou uma espingarda para matar o vice-cônsul britânico Cyril Ousman, em Jidá.

Após a Revolução Islâmica do Irão em 1979 e um ataque militante à Grande Mesquita de Meca, os governantes da Arábia Saudita rapidamente abraçaram o 'wahhabismo', uma doutrina islâmica ultraconservadora nascida no reino. Isso resultou na estrita separação de género, na proibição de conduzir às mulheres e em outras medidas.

Com o príncipe Mohammed e o seu pai, o rei Salman, o reino abriu salas de cinema, permitiu que as mulheres conduzissem e sediou grandes festivais de música. Mas o discurso político e a dissidência continuam a ser estritamente criminalizados, potencialmente sob pena de morte.