Os problemas de 2024
Não há motivo para muitos otimismos neste início de 2024. A julgar pelo que foi discutido no “Fórum de Davos 2024”, o mundo está cheio de problemas por resolver e as soluções não são fáceis.
Cada problema - das guerras na Ucrânia e Gaza até ao terrorismo - precisa de uma solução específica. No entanto, a solução de cada um está dependente da solução de outros - o que acaba por criar uma enorme teia de complexidade que, em si mesma, é um megaproblema.
Todas as pessoas de boa vontade desejam o fim da tragédia humanitária de Gaza. Apesar disso, mesmo depois de 25,000 mortos, não se vislumbra uma solução para o conflito.
Não é possível uma solução para Gaza sem uma solução para a “Questão da Palestina” que, por sua vez, só é possível no quadro de uma “solução” para o Médio Oriente que, por sua vez, depende da configuração geopolítica global.
A interligação local/global é uma pau de dois bicos: tanto pode contribuir para a solução como para complicar os problemas ainda mais. No caso de Gaza, tanto pode ser um caminho para a paz, como para fazer escalar o conflito para o nível regional ou mesmo global - no limite, para uma III Guerra Mundial.
O mesmo raciocínio da interdependência local/global também é válido para a guerra na
Ucrânia, as alterações climáticas, o terrorismo, etc. Em todos estes casos, cada solução está dependente de uma cadeia de outras soluções - o que exige cooperação a diversos níveis.
Só que a cooperação esbarra, quase sempre, em interesses egoístas - como se viu nas
votações do Conselho de Segurança da ONU em que as propostas para um cessar-fogo
em Gaza foram derrotadas por um direito de veto obsoleto.
Mesmo em setores específicos - como a educação - a solução para os problemas já não depende só do esforço local dos professores ou dos pais. As crianças já não vivem só no espaço da família ou da escola. Muitas já passam muito tempo no ciberespaço global.
Os pais da geração TikTok já estão com os cabelos em pé para controlar o tempo que os “príncipes” e “princesas” passam online. Os novos “modelos” já são menos os pais ou os professores e mais os/as “influencers” - reais ou virtuais.
As crianças que têm a sorte de ser orientadas até podem ganhar muito com o tempo que
passam online. No entanto, as que ficam por sua conta, correm riscos que estão para além do pior que os pais possam imaginar. Se não existir uma cooperação global para regular
os conteúdos online - de forma eficaz -, há crianças que vão sofrer danos irreversíveis.
Apesar deste pessimismo, poderá haver uma luz ao fundo do túnel: a Inteligência Artificial (IA). A IA está a evoluir muito mais depressa do que a nossa capacidade de perceber o que está a acontecer - podem surgir soluções radicalmente novas para velhos problemas.
Mas o “problema dos problemas” é a própria natureza do homem: já terá “maturidade” suficiente para ser responsável pela IA?
Manuel Pereira