Foi pena
Um dos profissionais que cobriu o V Congresso dos Jornalistas lamentou a escassez de “casos de sucesso" e de "faróis de esperança”. Estamos conversados
Boa noite!
Chegou ontem ao fim o V Congresso dos Jornalistas que concluiu que o “actual estado de emergência do jornalismo nacional convoca todos a empenharem-se na busca de soluções e na união em torno dos princípios e valores que regem a profissão”. Já estamos a fazer por isso. Com actos, pois paleio em excesso não leva pão à mesa. Sobretudo se nela se sentarem aqueles que hoje não têm pacto com a verdade.
Da resolução final, por sinal pouco destacada - já que os meios de comunicação social optaram por enfatizar a convocatória de uma greve geral ainda sem data definida, paralisação total que servirá para alertar para o estado do sector, “eternamente com salários baixos ou precários” - constam a algumas considerações relativas às ameaças ao jornalismo, como a precariedade laboral e as condições de trabalho desumanas, que importa debelar. Já.
Torna-se evidente ainda a necessidade de reflexão sobre o financiamento dos media e, como era previsível, também ficam alguns reparos ao desempenho da profissão por parte de alguns dos seus activos.
Os jornalistas pedem reflexão sobre o quadro legal que regula a profissão, defendem o reforço da autorregulação e deixam um apelo a quem vai votos a 10 de Março para que “contemplem nos seus programas compromissos efectivos de protecção do Jornalismo enquanto bem público”. Tudo certo se for pensado de forma séria, por todos os players do sector e não só pelo centralismo sindicalizado e se não for esmola de circunstância, mas sim um pacto de regime.
De resto, foi pena que o Congresso tivesse focado muito no “lado negativo da profissão”, tem sido pouco falados “aqueles casos de sucesso, aqueles faróis de esperança”. O balanço é feito pelo jornalista que cobriu a reunião magna para o ‘Público’. Rúben Martins revela mágoa pois entende que o jornalismo “também tem coisas boas e é preciso mostrar que se acredita muito no futuro desta profissão”. Será que a culpa foi de quem, tendo boas notícias para dar, não conseguiu lá ir ou de quem montou o cenário, tirando partido do contexto adverso para generalizar?
Foi pena que sobrasse a convicção retratada por António Cotrim que mostra preocupação pelo futuro da profissão pois desconfia do poder efectivo que este Congresso terá a longo prazo: “As moções são aprovadas em congressos e, a partir de amanhã, ainda que vá ser diferente, depois continua tudo igual”.
Foi pena que entre as mais de 20 moções tenham surgido poucas no campo das soluções, "no sentido de criar algumas medidas de apoio aos profissionais do sector e aos órgãos de comunicação para os quais trabalham". Seria bem mais decisivas e pragmáticas do que estéreis discussões sobre os conflitos de interesses e as crises existenciais assentes em delírios de género e afins.