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A Guerra Mundo

Pela paz, milhares de russos apoiam candidato presidencial que desafia Putin

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Foto AFP

Milhares de russos expressaram até agora com as suas assinaturas apoio ao ex-deputado liberal que pretende tornar-se o candidato presidencial "pela paz" e contra o atual Presidente russo, Vladimir Putin, nas eleições de entre 15 e 17 de março.

Desde sábado, apesar do frio glacial, os moscovitas saíram à rua e aguardaram em fila para apoiar Boris Nadejdin, um desconhecido do grande público que está a recolher assinaturas para defrontar Putin nas presidenciais.

Um após outro, entram no gabinete eleitoral, em cuja entrada se lê: "Abra a porta do futuro".

A razão pela qual ali se encontram é porque o antigo deputado, que passou pela oposição liberal mas também por movimentos mais alinhados com as autoridades, se afirma contra a guerra russa na Ucrânia, em curso há quase dois anos.

Até agora, Boris Nadejdin, que tinha as suas ligações dentro do regime, não foi alvo da repressão que dizimou a sociedade civil russa desde que as tropas de Moscovo invadiram a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022.

Ainda no domingo, durante um debate na plataforma digital YouTube com a jornalista russa atualmente exilada Yulia Latynina, Nadejdin reafirmou ser a favor da paz e querer pôr fim à mobilização de homens para combater, se for eleito.

Nos últimos meses, defendeu que a Rússia deve "eleger um novo Presidente" e classificou a intervenção na Ucrânia como "um erro fatal" de Vladimir Putin.

Para concorrer às presidenciais, deve primeiro coligir até 31 de janeiro 100.000 assinaturas de eleitores. O seu 'site' da Internet indica que hoje à noite já tinha recolhido quase 85.000.

As suas tomadas de posição são uma exceção na Rússia, onde a quase totalidade das figuras que se opunham à agressão à Ucrânia fugiram do país ou foram aprisionadas, tal como milhares de cidadãos anónimos.

Os outros candidatos às presidenciais têm-se abstido de expressar a mais pequena crítica à ofensiva russa e a Putin.

Na fila para as assinaturas, um estudante de Biotecnologia de 19 anos, Ivan Semionov, explicou que veio apoiar Nadejdin porque ficou "comovido com as surpreendentes imagens divulgadas este fim de semana nas redes sociais, mostrando tantas pessoas que vieram apoiá-lo".

"Para muitas pessoas, é uma oportunidade de exprimirem o seu desacordo com o que se passa, sem temerem ser presas ou despedidas", observou o jovem.

Originária de Omsk, na Sibéria ocidental, a enfermeira Natália Avdeeva, de passagem por Moscovo, acorreu ao gabinete eleitoral do opositor a Putin e ficou "agradavelmente surpreendida" por ver tamanha multidão.

"Estamos aqui todos em solidariedade para apoiar um candidato que se opõe à 'operação especial'", afirmou a mulher de 53 anos, usando o eufemismo habitual para falar da guerra.

Deputado liberal na Duma, a câmara baixa do parlamento russo, no início dos anos 2000, Boris Nadejdin era próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado em 2015.

Nos últimos anos, acercou-se de formações políticas mais conotadas com o Kremlin, sem, contudo, seguir totalmente a sua linha.

Vladimir Putin, no poder há quase um quarto de século, deverá, no entanto, ser mais uma vez reeleito para a Presidência em meados de março.

Apesar disso, é com entusiasmo que centenas de cidadãos anónimos fazem fila em frente ao gabinete de candidatura de Nadejdin.

Alguns salientam que o próprio apelido do candidato, Nadejdin, os inspira, porque tem a mesma raiz que a palavra "nadejda", que em russo significa "esperança".

Andreï Vaniukov, empresário de 52 anos de Syktyvkar, no extremo norte da Rússia, afirma saber que o Presidente em exercício continuará no cargo, mas quer "apoiar qualquer pessoa, desde que seja contra" Putin.

"Mesmo não tendo Nadejdin qualquer hipótese de ganhar o escrutínio (...), para as pessoas que nunca saíram à rua para protestar por medo da repressão, esta é finalmente uma oportunidade para se expressarem", sustentou.

Valery Bredikhin, psicólogo de 36 anos, concorda: está satisfeito com esta possibilidade de se exprimir "sem correr o risco de ser preso ou espancado".

Por sua vez, Ksenia Golubtsova, afirma querer "sobretudo mudança!".

"Quero que os meus dois filhos, que têm ambos quatro anos, vivam num país mais aberto, mais livre", sublinhou.