Crise interna no PS-Madeira foi notícia há 26 anos
A machete de hoje do DIÁRIO, que dá conta da contestação à lista de Paulo Cafôfo, por parte de um grupo de militantes históricos levou-nos, neste dia 19 de Janeiro, a recuar no tempo, até 1998, para, no ‘Canal Memória’ de hoje, recordarmos o desentendimento que então afastou Mota Torres de Fernão Freitas, membros da cúpula do PS-Madeira.
Nessa segunda-feira de Janeiro, a Madeira acordava depois de uma Comissão Regional socialista intensa, onde, conforme era relatado nas páginas do DIÁRIO, os gritos e os insultos não foram poupados.
Fernão Freitas, então líder da bancada parlamentar do PS-Madeira na Assembleia Legislativa da Madeira, apresentou, nesse encontro magno do partido, juntamente com outros 16 elementos socialistas, uma proposta em que pedia a demissão do líder, Mota Torres, mas os militantes disseram que não. Houve 34 votos contra, 25 a favor e 3 abstenções.
Para além de Fernão Freitas, as figuras mais em destaque que assinaram este texto foram Pedro Fragoeiro, Manuel Santos e Gregório Gouveia (deputados), Joaquim Ventura, Ricardo Freitas, Óscar Teixeira, João Sales Caldeira, António Loja e Victor Freitas, alguns deles candidatos nas eleições autárquicas que tinha acontecido recentemente.
Na proposta apresentada os descontentes não se limitavam a pedir a demissão do líder. Queriam, também, a definição dos estatutos. No documento eram tecidas duras críticas à direcção do partido e à forma como tinha sido conduzida a campanha para as Autárquicas e respectivos resultados obtidos: “O PS-M falhou no resultado, nos objectivos, na estratégia e na táctica”, era dito.
A par das críticas a Mota Torres, havia, também, contestação contra o então secretário-geral, André Escórcio, que mesmo já retirado da política activa, nos últimos dias foi um dos primeiros a criticar o tratamento dado pela actual direcção do PS-Madeira a Carlos Pereira.
A ruptura entre o grupo parlamentar e a direcção do partido era cada vez mais uma realidade. Uma das frases contidas no documento submetido a votação nessa reunião da Comissão Regional que mais terá marcado os apoiantes do então presidente do partido foi a seguinte: “Apareceram outros militantes ditos 'próximos do Presidente' do PS-M que 'entre um copo e outro' se diziam mentores ou responsáveis pela imagem e condução da campanha eleitoral”.
Mesmo derrotado, Fernão Freitas prometia não baixar os braços, nem tão pouco demitir-se do cargo de líder parlamentar.
“O PS entrou numa crise evidente. Prevaleceu o sentimento autista e o querer fazer de conta. Mantêm-se aqueles que estão a dar à actual maioria do PSD paz e sossego para continuar durante muito mais tempo a governar a Região”, dizia o ‘derrotado’ aos jornalistas, à saída da reunião.
“Recuso-me, como madeirense que aqui nasceu e vive, a entrar na política autista. Perdemos mais uma oportunidade para que o poder regional conhecesse uma alternativa real”, complementou Fernão Freitas.
E acrescentava que “não é com a liderança de Mota Torres que o PS-M conseguirá ser poder”, realçando que “a partir de agora a credibilidade que era necessário encontrar está cada vez mais distante. Seremos um partido cronicamente de oposição”.
Da parte da direcção do partido, a ameaça de retirar a confiança política ao grupo parlamentar e ao seu líder foi colocada em cima da mesa.
Mota Torres prometia uma série de mudanças radicais no PS-Madeira. Preparava-se, então, para exigir, em Lisboa, um novo relacionamento entre o PS nacional e regional. Prometia impor novas regras no relacionamento com o grupo parlamentar e apontava mexidas na estrutura directiva do partido.
“O DIÁRIO soube ainda que o presidente do partido passará, a partir de agora, a ter uma postura muito mais dura em relação aos militantes que venham para a praça pública tecer afirmações que ponham em causa o bom nome e a imagem do partido e dos seus dirigentes”, podemos, ainda, ler numa das notícias sobre o tema.
Nessa mesma edição, o histórico do PSD-Madeira, Gabriel Drumond, defendia que a Madeira deveria ser um Estado Federado; que os animais que eram vendidos em lojas de especialidade não eram bem tratados; e que os transportes públicos estavam a perder passageiros.