Arrependimento e burnout parental são fenómenos crescentes
Professora e investigadora alerta para a importância de educar para a parentalidade
A professora e investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Filomena Gaspar, alertou esta sexta-feira, 19 de Janeiro, para a tarefa "extremamente desafiante da parentalidade".
A oradora das primeiras 'Jornadas de Estudos e Intervenções com a Família: Da compreensão à Intervenção', que decorrem hoje no Colégio dos Jesuítas, na cidade do Funchal, apontou que o arrependimento e o burnout parental são fenómenos crescentes.
Com base no estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos 'As Mulheres Hoje em Portugal – quem são, o que pensam e como se sentem', a primeira interveniente do evento expôs as assimetrias na divisão das tarefas nas famílias portuguesas e a sobrecarga das mulheres na sociedade actual.
"Em mais de 72% das famílias portuguesas continua a ser a mulher quem se dedica às tarefas domésticas e familiares apesar das carreiras desafiantes", disse, descrevendo que a situação dá origem à desilusão da maternidade que por sua vez resulta no arrependimento de ter filhos.
"5% das mulheres portuguesas se voltassem atrás não tinham filhos porque os desafios de conciliar a parentalidade com uma carreira profissional e com o cuidar de si são extremamente desafiantes", atentou.
Podemos adoecer por sermos pais e mães. Quando esta função é extraordinariamente exigente as pessoas podem entrar em estados de exaustão, distanciamento emocional das crianças e não se identificarem como pais e mães. Filomena Gaspar
Para contornar estes fenómenos é necessário "educar para a parentalidade", defendeu a investigadora.
É necessário actuar ao nível das crenças, educar a sociedade para a importância de existir a divisão de tarefas no cuidar da família, haver masculinidades sensíveis e protectoras porque os homens têm de assumir funções emocionais e afectivas com as crianças, temos de desconstruir o mito de que a criança desenvolve uma relação preferencial com a mãe porque a criança cria uma relação preferencial com os adultos cuidadores principais, que não tem de ser obrigatoriamente a mãe. É preciso ajudar os pais a lidar com o stress, a ter mais tempo para cuidar deles. É necessário educar para a parentalidade. Filomena Gaspar
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