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Madeira

Derrame de crude manchou parte do Porto Santo há 34 anos

Recorde a edição de 18 de Janeiro de 1990, neste 'Canal Memória'

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Alguns pescadores terão avistado, sentiu-se o cheiro, mas parece que ninguém levou a sério o alerta para a possibilidade de uma mancha de crude chegar à praia do Porto Santo. A verdade é que, numa segunda-feira de manhã, 15 de Janeiro de 1990, parte da praia do Porto Santo passou de dourada a preta, nomeadamente nas Serras de Fora e de Dentro.

A palavra mais utilizada na época era “catástrofe”, até porque esta foi considera a maior catástrofe ecológica registada em Portugal até então. Na edição de 18 de Janeiro desse ano, o DIÁRIO dava conta de relatos de pescadores e de outras gentes do Porto Santo que, no domingo antes, tinham avistado a mancha ou sentido um forte cheiro a combustível.

Rochas, mar e praia ficaram conspurcados com combustível e estimava-se que as limpezas fossem demorar cerca de dois meses até estarem concluídas. “A vegetação marinha está a morrer lentamente por asfixia e intoxicação. Alguns peixes mortos já foram encontrados, mas especialistas que se encontram em Porto Santo acreditam que «o pior ainda está por vir»”, relatava o DIÁRIO.

As autoridades começaram a investigação de imediato, mas ainda não estavam capazes de identificar a origem desta mancha. Havia indicação de dois petroleiros acidentados ao largo da ZEE, mas esta era uma mancha demasiado fresca para advir desses sinistros.

Devido ao perigo de contaminação das águas marítimas, a central dessalinizadora e a lota do Porto Santo foram encerradas. O delegado de saúde mandou ainda que fosse retirado do mercado o peixe que se encontrava à venda na lota.

A Força Aérea Portuguesa transportou, a 17 de Janeiro, cerca de 8 toneladas de material para o Porto Santo, destinado a conter a mancha, por forma a que não se estendesse desde a parte detrás do porto de abrigo até à praia.

Num ponto de situação feito após uma reunião entre os ministros do Ambiente e da República para a Madeira, o secretário de Estado do Ambiente, os secretários regionais da Administração Pública e do Equipamento Social, entre outros responsáveis, foi dito que era pouco provável que a mancha chegasse à costa Sul da Madeira.

No entanto, o Norte da Madeira foi afectado. Embora em quantidades bem menores, o crude chegou também ao Porto da Cruz, nomeadamente nas praias da Maiata e da Lagoa, e a São Vicente. O presidente da Câmara Municipal de São Vicente em 1990, Gabriel Drumond, dava conta de que tinham sido encontrados vários peixes mortos, bem como polvos e tartarugas.

Vários deputados da Assembleia Legislativa da Madeira e da Assembleia da República deslocaram-se até ao Porto Santo para se inteirarem da evolução desta catástrofe. Também quem seguiu para a ilha dourada foram os jornalistas de diversos órgãos de comunicação nacionais e internacionais.