‘Leitor não rouba e ladrão não lê’
Será que a tese do livreiro mais famoso de Marrocos é levada a sério em Portugal?
Boa noite!
Numa altura em que os jornalistas portugueses se reúnem em congresso – que começa amanhã em Lisboa - para defender a profissão e reflectir sobre o seu trabalho, entristece-nos a forma como alguns com responsabilidades acrescidas se vendem ao facilitismo que compromete o futuro sustentável do sector.
Andamos nós a lutar contra a pirataria e a valorizar a nossa edição impressa enquanto outros preferem vangloriar-se do hipotético alcance dos seus projectos, pasme-se através da distribuição ilegal nos grupos clandestinos de WhatsApp e do Telegram. Bonito serviço.
Andamos nós a lutar contra a usurpação de conteúdos pagos por parte dos que acham que basta citar para apropriar-se daquilo que deu trabalho e tem valor, enquanto outros no sector aplaudem o que é difundido levianamente e à borla.
Andamos nós a valorizar conteúdos jornalísticos digitais para que não acabemos todos a pão e água, enquanto outros no sector nada cobram e pior, repetem expedientes de má memória, oferecendo quase tudo.
A este propósito, importa ler Bárbara Reis que, no seu primeiro Coffee break de 2024 no ‘Público’ deixou tudo muito claro sobre aquilo que lamentavelmente tende a ser normal, o roubo sistemático de notícias dos jornais.
Um roubo que pelos vistos tem seguidores na ilha e que, infelizmente, desmente o ditado iraquiano ‘leitor não rouba e ladrão não lê’ ou a tese do livreiro mais famoso de Marrocos. Mohamed Aziz, de 72 anos, passa 6 a 8 horas por dia a ler livros e não se preocupa que roubem as obras expostas sem grande vigilância na medina de Rabat. Contam muitos daqueles que já o entrevistaram que habitualmente encolhe os ombros quando lhe perguntam se não teme o desfalque, alegando que "quem não sabe ler não rouba livros, e quem sabe, não é ladrão".