DNOTICIAS.PT
Fact Check Madeira

A rajada de 143 km/h registada este Inverno está no Top 10 das mais fortes na Madeira?

O vendaval da depressão 'Irene' derrubou pelo menos uma torre do parque eólico do Paul da Serra.
O vendaval da depressão 'Irene' derrubou pelo menos uma torre do parque eólico do Paul da Serra.

O vento andou endiabrado. Derrubou árvores, destruiu estruturas e até vergou e mandou ao chão uma torre do parque eólico do Paul da Serra. Ainda no rasto da depressão ‘Irene’, muitos palpites têm sido dados, sobretudo nas redes sociais, sobre se a rajada, registada no Chão do Areeiro na manhã de terça-feira, seria um recorde na Madeira ou se figuraria entre as mais fortes alguma vez ocorridas na Região. Recorrendo aos instrumentos de medição do Observatório Meteorológico do IPMA na Madeira, teria aquele vento que atingiu um pico máximo de 143 km/h direito a um lugar no top10 das rajadas mais fortes no histórico recente?

Os instrumentos de medição da intensidade do vento, e mais particularmente, das rajadas, são os anemómetros que equipam 15 das 21 estações meteorológicas do IPMA na Região. Desde a origem da civilização que o Homem utiliza instrumentos para medir o vento, mas só mais recentemente a tecnologia deu-nos a possibilidade de contar com dados mais fiáveis. Os aparelhos mais apetrechados e que equipam a actual rede do IPMA foram instalados em 2010, conforme explicou ao DIÁRIO o director do Observatório de Meteorologia, Vítor Prior. Trata-se de instrumentos digitais de observação e de cálculo da força do vento que são certificados pela autoridade meteorológica e utilizados de forma homogénea em todo o território nacional, viabilizando a análise comparativa.

Logo, tendo como ponto de partida 2010, temos logo o dia 18 do mesmo ano um dos mais ventosos. Precisamente os dias que antecederam aquele que ficou marcado como um dos momentos mais trágicos da história recente da Região Autónoma da Madeira: a aluvião de 20 de Fevereiro. A 18 de Fevereiro de 2010, qual mau prenúncio, os ventos sopraram até picos de 159 km/h em São Jorge (Santana) e 155 km/h no Areeiro (serras do Funchal). Mas seriam essas as rajadas mais fortes dos últimos 24 anos ou, se quisermos, desde que há registos fidedignos?

Os anemómetros digitais da rede do IPMA na Região nunca registaram um valor tão elevado para a intensidade de vento como a 1 de Março de 2018. Estava o arquipélago sob aviso vermelho, quando o vento do quadrante Oeste sacudiu as zonas montanhosas da cordilheira central da ilha, atingindo os 168 km/h no Chão do Areeiro, um valor mais comum em depressões extra-tropicais do que propriamente em tempestades nesta região do Atlântico.

A tempestade, designada de depressão ‘Emma’, que influenciou o estado do tempo no final do Inverno de há seis anos, acabou por ser a responsável pelos ventos mais fortes alguma vez registados pelos aparelhos digitais na Região. A 28 de Fevereiro de 2018, o Areeiro registou um vento com intensidade máxima de 166 km/h, o 2.º mais forte dos últimos 24 anos, ou se quiser, desde que há registos homologados pelo IPMA. No mesmo dia, as estações meteorológicas do Lombo da Terça e do Aeroporto da Madeira, marcaram 164 km/h.

Dois ribeiros transbordaram, um muro desabou em Câmara de Lobos, uma palmeira atingiu uma residência no Funchal, a vedação do complexo desportivo em Gaula desabou e cedros tombaram sobre as estradas. Este foi o balanço desse vendaval que também trouxe muita chuva.

Se compararmos o temporal de Março de 2018 com o de ontem, podemos concluir que a intensidade do vento durante a depressão ‘Irene’, tendo sido grande – até porque registou valores de aviso vermelho no Chão do Areeiro (143 km/h) – ficou aquém das rajadas provocadas pela passagem da depressão ‘Emma’.

Na manhã da última terça-feira, o Aeroporto da Madeira foi palco de rajadas de vento bem acima do normal, com a estação junto à pista de Santa Catarina a marcar um pico de 126 km/h pelas 6 horas da manhã, sendo esta a segunda rajada mais elevado durante as 15 horas em que vigorou o aviso laranja na Madeira durante a depressão ‘Irene’. Um valor impressionante, mas bem inferior aos 164 km/h registados por aquela estação a 28 de Fevereiro de 2018 quando a depressão dava pelo nome de ‘Emma’.

Feitas as contas aos momentos de maior vendaval e a análise do histórico das rajadas mais fortes alguma vez registadas na rede de 15 anemómetros do IPMA espalhados pelo território do arquipélago da Madeira, podemos concluir que a rajada de 143 km/h, registada no Chão do Areeiro na manhã da última terça-feira, apesar de impressionante e de ter provocado estragos, está fora do top 10 dos ventos mais fortes que ‘varreram’ a Região.

Na lista das localidades com ventos mais impetuosos, elaborada pelo DIÁRIO e que contou com a colaboração do director do Observatório Meteorológico do IPMA no Funchal, Vítor Prior, verifica-se que a rajada máxima da depressão ‘Irene’ figura no 12.º lugar dos lugares com picos de vento, sendo os primeiros três preenchidos por rajadas da depressão ‘Emma’, em Março de 2018.

Confira o 'ranking', com as datas e localidades:

168 Km/h
Areeiro, 1 de Março de 2018

166 Km/h
Areeiro, 28 de Fevereiro de 2018

164 km/h
Aeroporto da Madeira, 28 de Fevereiro

164 km/h
Lombo da Terça, 28 de Fevereiro de 2018

164 Km/h
Areeiro, 23 de Novembro de 2014

161 km/h
Caniçal, 14 de Março de 2022

159 Km/h
São Jorge, 18 de Fevereiro de 2010

155 Km/h
Areeiro, 18 de Fevereiro de 2010

149 Km/h
Areeiro, 4 de Outubro de 2015

145 Km/h
Areeiro, 3 de Abril de 2019

145 Km/h
Areeiro, 21 de dezembro de 2021

143 Km/h
Areeiro, 16 de Janeiro de 2024

A rajada de 143 km/h registada este Inverno está no Top 10 das mais fortes na Madeira