Inventor madeirense apresentou engenhoca para aproveitar energia das ondas há 36 anos
A procura por sistemas de energias renováveis e não poluidoras é hoje um desígnio global, devido às alterações climáticas. Mas houve quem despertasse para este problema há muito tempo e tenha tentado encontrar soluções com aplicação prática. Foi o caso do professor madeirense António Lima, que há precisamente 36 anos apresentava nas páginas do DIÁRIO uma máquina capaz de aproveitar a energia das ondas do mar e transformá-la em energia eléctrica.
Na reportagem publicada a 17 de Janeiro de 1988, era apresentada a engenhoca montada na casa do docente de trabalhos manuais. António Lima explicava que a ideia surgiu-lhe anos antes, durante as suas visitas ao Porto Santo, ilha que se debatia com o problema da água e da energia. Imaginou que a central dessalinizadora instalada no Porto Santo poderia consumir menos energia eléctrica caso fosse aproveitada a energia das ondas. A partir daí, passou a estudar, a desenhar e a construir modelos de aparelhos que poderiam tornar realidade a sua ideia. Até que chegou a um modelo que considerou viável e cuja patente registou em Abril de 1986.
Nas declarações prestadas ao jornalista Gonçalo Mendes, o inventor madeirense referia que estava à procura de apoios do Governo Regional para testar a sua máquina e para a registar noutros países, especialmente em Espanha. «O interesse pela Espanha tem a ver com o problema da falta de água em Canárias. Com a utilização do meu invento seria possível não só aplicá-lo na dessalinização de água como, com um investimento grande, na produção de electricidade”, descrevia António Lima, que já tinha apresentado a sua criação ao Laboratório Regional de Engenharia Civil e até o tinha testado na zona do Porto Novo.
A mesma reportagem revelava que António Lima tinha outras invenções na forja, desde instrumentos de apoio a pessoas portadoras de deficiência a um carro movido a energia solar. “Ao todo, tenho treze inventos mais ou menos concretizados. No entanto, as dificuldades que encontrei quando fiz o registo da patente do aparelho para aproveitamento da energia das ondas do mar fizeram com que não os tivesse divulgado ainda”, comentou.
Um desses inventos viria a ser divulgado cerca de dois anos depois, na edição do DIÁRIO de 12 de Abril de 1990: um sistema hidráulico que permitia a abertura da porta da sua garagem com recurso à pressão da rede de fornecimento de água doméstica. Nessa segunda reportagem, António Lima revelou que já tinha cerca de 30 inventos para patentear e que pretendia transformar a sua casa no Caminho do Pilar numa espécie de ‘museu de engenhocas’.
Sabe-se que António Lima se aposentou de professor na Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos de Santo António no final de 2011.